Ronaldo reage a acusações: "Quem não deve não teme"
Perante insistência de jornalista da RTP sobre alegada fuga aos impostos, uma suspeita que levou a Justiça espanhola a abrir uma investigação ao internacional português há um ano e meio, o avançado do Real Madrid disse que não está preocupado
08.12.2016 às 15h31
FACUNDO ARIZABALAGA
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Cristiano Ronaldo diz que nada teme no caso da alegada evasão fiscal que há um ano e meio levou o Ministério das Finanças de Espanha a abrir uma investigação formal ao internacional português.
Na quarta-feira à noite, no final do jogo com o Borrussia Dortmund da última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, o avançado do Real Madrid cedeu à pressão do jornalista da RTP que o confrontou com as informações reveladas pela Football Leaks, uma investigação a ser conduzida há sete meses pelos 12 parceiros do consórcio European Investigative Collaborations (CEI, na sigla portuguesa), entre eles o Expresso, com base em milhões de documentos obtidos pela revista alemã "Der Spiegel".
"Acha que estou preocupado?", perguntou o bola de ouro em tom retórico. "Quem não deve não teme", acrescentou, escusando-se a dizer mais sobre a questão. Horas antes do jogo, que terminou empatado, a Justiça espanhola tinha anunciado que três jogadores, entre eles o português Ricardo Carvalho, já foram acusados formalmente de evasão fiscal e outros dois, o colombiano Falcao e o português Fábio Coentrão, encontram-se sob investigação.
Esta quinta-feira, fontes do Ministério das Finanças espanhol avançaram ao "El Mundo", outro dos parceiros do consórcio, que Cristiano Ronaldo está sob investigação das autoridades tributárias há um ano e meio e que o inquérito se encontra numa fase "avançada". As mesmas fontes dizem que, assim que tiveram indícios consistentes suficientes, vão passar essas informações ao Ministério Público para que seja aberto um processo contra o jogador português. Fiscalistas espanhóis já avisaram que Ronaldo pode vir a enfrentar uma pena de até seis anos de prisão pelo delito fiscal de que é suspeito.
O avançado da equipa merengue terá recorrido a empresas fictícias sediadas nas Ilhas Virgens britânicas, um paraíso fiscal do Caribe, para ocultar receitas de publicidade na ordem dos 150 milhões de euros. Jorge Mendes, o empresário português que representa Ronaldo e várias outras estrelas do futebol envolvidas neste escândalo de fuga aos impostos, continua a garantir que as contas do jogador estão em dia.
Na sexta-feira passada, os meios de comunicação que integram o consórcio — Expresso, "Der Spiegel" e "El Mundo", a par do austríaco "Der Falter", do belga "Le Soir", do dinamarquês "Politiken", do italiano "L'Expresso", do grupo francês Mediapart, do sérvio "Newsweek" e do romeno "RCIJ The Black Sea" — noticiaram que Ronaldo terá evadido milhões de euros em impostos tributáveis desde que integra a equipa principal do Real Madrid.
As informações que os parceiros do CEI têm estado a divulgar têm por base 1900 gigabytes de documentos cedidos aos jornais pela plataforma Football Leaks, que cerca de 60 jornalistas têm estado a analisar há mais de sete meses. Entre as estrelas de futebol citadas contam-se ainda o português Pepe, assim como o internacional alemão Mesut Ozil, atualmente a jogar no Arsenal.
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