Um porta-aviões não é só um barco e um pitbull não é apenas um cão
O Atlético de Madrid ganhou ao Leicester por 1-0 num jogo em que foi superior em todas as estatísticas. Na segunda-mão, é provável que os papéis se invertam e que os ingleses entrem com tudo para encostar os espanhóis lá atrás
12.04.2017 às 21h52

Griezmann fez o golo de penálti que pôs o Atlético em vantagem nesta eliminatória da Liga dos Campeões
David Ramos
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Há uma história que se cola ao Atlético de Madrid e que se conta mais ou menos assim:
Era uma vez uma equipa intensa, defensiva e de contra-ataque puro, liderada por um guru motivacional que mais não fazia do que espremer os jogadores até à exaustão, a ponto de um tal de Arda Turan ter pedido para sair por não aguentar o ritmo da equipa e do treinador. Esse Atlético de Madrid, que era feio, porco e às vezes mau e com mau futebol, era dado a carrinhos aos calcanhares e a estratégias manhosas, como o proverbial ‘queima tempo’, e se ganhava era porque tinha sorte ou era eficaz, ou então porque o árbitro se enganara a favor dele. O Atlético de Madrid era o menos favorito e aprenderam a gostar dele assim, porque ele era mesmo assim.
Só que dizer que Atlético de Madrid era só isto é o mesmo que dizer que um porta-aviões é apenas um barco ou um pitbull apenas um cão. Isto é, o Atlético de Madrid é aquilo que ele pode ou que o deixam ser, e se se recolhe quando há um bichano maior por perto, também cresce quando tem um menor pela frente.
E aqui entra o Leicester, o novo Atlético de Madrid desta Liga dos Campeões, o clube que todos os outros clubes preferem apanhar num sorteio por oposição a um Real Madrid, Bayern de Munique, Barcelona ou Juventus.
Tal como o Atlético, o Leicester entrega o ouro (aka, a bola) ao bandido, se o bandido tiver melhores armas, e aposta na verticalidade e explosão de Vardy para tentar surpreender em contra-ataque. Foi assim há bocadinho, mas provavelmente não continuará a sê-lo em Inglaterra, na segunda-mão, porque o Leicester parece maior no seu quintal do que nos outros.
Mas falaremos disso quando chegar a altura.
Hoje, no Vicente Calderón, o Leicester defendeu e procurou sair depressa para a frente, enquanto Atlético mostrou que tem jogo além do autocarro - sabe ter a bola (64% de posse contra 36%) atacar (8 a 1 em cantos), sabe rematar (15 contra 6), procurar o espaço (537 passes contra 214) e até sabe encontrá-lo vazio, mas falta-lhe um ponta-de-lança como os que teve antes, como Falcao ou Diego Costa, que ponha a bola lá dentro quando Griezmann não o faz – esta é para ti, Torres.
O golo que o francês marcou, de penálti (28’), fez o resultado que deixa tudo em aberto para a segunda volta, em Leicester, mas fecha o capítulo da história com que comecei este texto.
O Atlético sabe jogar à bola.