Ir de férias ao Cazaquistão e ver o Sporting jogar (por €3,75)
A história de como um jogo de futebol leva alguém a decidir ir passar férias a 6100 km de distância, numa cidade onde as temperaturas estão negativas e quase ninguém fala inglês. Sem bilhete comprado (e que afinal só custou €3,75) para o Astana-Sporting e com muito frio, roupa e problemas graves de comunicação à mistura
15.02.2018 às 11h57

Sergei Bobylev
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Ir passar férias ao Cazaquistão? Um país que acaba em "istão" e fica ao pé de outros acabados também em "istão" como o Afeganistão ou o Paquistão? A maior parte das pessoas em Portugal deverá ter muitas outras prioridades turísticas e provavelmente o Cazaquistão não faz parte da lista de países a visitar de quase ninguém, nem a sua capital Astana.
Marcada a 12 de janeiro, a viagem Lisboa Astana apresentou números assustadores de duração com múltiplas escalas, que apontavam para mais de 30 horas. Foi preciso encontrar um equilibrio entre duração e preço. O melhor que se conseguiu arranjar foram 586,71 euros com a viagem de ida, com escala em Frankfurt, a durar 11h35 de Lisboa a Astana. O regresso demorará mais: 12h50m. O bilhete para o jogo só será comprado em Astana.
Frio: comprar polar barato
As primeiras previsões meteorológicas eram aterradoras para esta semana: a 30 dias apontavam para valores mínimos de 42 graus negativos. Com o tempo a passar, foram sendo corrigidas para "apenas" 30 negativos. Agora já "só" estão na casa dos 20. É uma boa política: baixar as expectativas e depois se for menos mau é sempre a ganhar. Seja então 20 negativos na noite em que o Sporting joga com o Astana.

Sergei Bobylev

O aeroporto de Almaty, no Cazaquistão
PATRICK BAZ
Para sair do aeroporto há um enxame de taxistas a perguntar "táxi?". Aquele que acaba por levar a melhor diz que a tarifa inicial é de 3000 tenge, a moeda do país (equivalente a 7,5 euros pois 1 euro são 400 tenge). Depois diz que não há problema (no problem, no problem!) pois a corrida não ficará em mais de 45.000 tenge. Ou seja mais de 100 euros! Queria certamente dizer 4500. Com gorjeta, recebe 6000. Mas, um dos funcionários do hotel diz que para o aeroporto não é mais do que 2000. Ou seja, 5 euros e não os 15 que foram pagos inicialmente.
A cidade é grande, confusa, com um trânsito compacto e muito poluída. Ja figurou em nono lugar na lista das cidades mais poluídas do mundo. Mas tem os seus encantos: está gelada (as temperaturas estiveram sempre próximas de zero graus), cheia de neve por todos os lados, tal como as montanhas que a circundam, tem edifícios interessantes e parques. As avenidas largas, ao estilo soviético que imperou nesta antiga república da União Soviética, têm muitas árvores.

Sergei Bobylev
Mas não é marcante e só agora está a dar os primeiros passos no turismo. E há ainda muito pouca gente a falar inglês pelo que a comunicação não é fácil. Ainda assim, não há nada que a tradução do Google não resolva: dois funcionários do hotel entram no quarto para avaliar a avaria no aquecimento. Não sabiam uma palavra de inglês mas do telemóvel de um deles saiu a voz de uma senhora que no seu melhor inglês perguntou se estava frio no quarto. Ao que eu respondi "não". A dificuldade de comunicação acaba por ser compensada pela tecnologia, como neste caso, ou pela simpatia e vontade de ajudar dos cazaques, em muitos outros.
Para entrar no metro, tudo é passado a raio x por modernos equipamentos de segurança devidamente controlados por policias. Só há uma linha com nove estações, cada bilhete custa apenas 80 tenge, ou seja, 20 cêntimos. E o bilhete propriamente dito não existe: é uma moeda amarela de plástico que se introduz numa ranhura e que os muitos funcionários que trabalham nas estações se apressam a ajudar a introduzir na ranhura.
Astana, a nova Dubai?
Quinta-feira é o dia de regresso à capital do Cazaquistão. O voo decorre tranquilo, em 1h30, mas à chegada ao aeroporto, o mesmo filme. A dona do apartamento não fala inglês e a conversa desenvolve-se com laivos de surrealismo. Recorrendo ao balcão de informações do aeroporto, peço ajuda para lhe ligarem e lhe perguntarem a que horas é possível entrar no apartamento. Neste balcão de informações as duas senhoras não falam inglês e ligam a uma terceira que também não fala inglês mas sim francês ou italiano. No meu melhor francês explico a situação, ela entra em contacto com a proprietária do apartamento, mas afinal o número está errado, volta a ligar para o balcão das informações onde fico à espera, as colegas passam-ma, volto a dar o número, lá se consegue falar com ela - diz que já está no apartamento à espera.

Sergei Bobylev

Os jogadores do Sporting a treinar em Astana
STANISLAV FILIPPOV/GETTY
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