Ora, Sérgio, depois de um empate frustrante com sabor a derrota a última coisa que um jogador deve fazer é dizer o que lhe vai na alma. Isso é dar ainda mais sabor ao gelado do adversário. O Sporting tinha dez pontos de avanço, manteve os dez pontos de avanço e tentas amesquinhar o feito dos outros? Música para os ouvidos dos adeptos sportinguistas que, nesse momento, se sentiram autorizados a dançar ao som da vantagem
Nuns há uma tendência clara para intervir o menos possível, deixando que o jogo flua até limites arriscados. Noutros dá-se um "festival de apito", superando-se facilmente as 40 faltas por partida. Nuns qualquer entrada mais dura é resolvida com diplomacia, paciência e prevenção. Noutros lances similares são logo contemplados com cartão. Nuns a análise a possíveis infrações nas áreas é demasiado lata. Noutros assinalam-se penáltis a cada toque ou contacto entre adversários. Cá fora, ninguém percebe, ninguém acredita e por isso todos criticam
Parem de bater na madeira, caros sportinguistas. Não tapem os ouvidos. A realidade é a que é. Bem podem dizer que reservar o Marquês é coisa de benfiquistas com triunfalismo precoce, mas todos sabemos que só o pudor e a imaginação de um castigo sobrenatural, e talvez o respeito pelas regras de confinamento, vos impede de saírem à rua, agitarem os cachecóis e soltarem o grito amarrado na garganta há longos dezanove anos
"Sem a 'moldura humana' (como eu amo estas expressões radiofónicas de antanho), sem o dramatismo cénico da multidão e a banda sonora viva (não as emoções enlatadas que nos servem em algumas transmissões), o jogo é aquilo que dizia a minha avó: 22 dois marmanjos a correr atrás de uma bola", escreve Bruno Vieira Amaral
E da estratégia do investir em tempos de crise, em contraciclo, ao contrário do que estavam a fazer todos os clubes europeus muito mais ricos do que o Benfica? Surpreendentemente, parece que não resultou. O que é que isto significa? Formação, Seixal, Florentino, Gedson, Camará, Gonçalo Ramos, sandes de courato, sumol de laranja, vivó Benfica!
Confesso que gosto muito desta explicação e acredito que a maioria dos benquistas também. Quer dizer, é provável que desconfiem da bondade da mesma e se perguntem “será que o gajo está a dizer que o Benfica ganhou por causa de jogadas manhosas?” Mas, ao mesmo tempo, sorriem porque sabem que há aqui um fundo de verdade, é uma explicação que não explica tudo mas tem a sua graça e sempre explica alguma coisa. A outra explicação é o excesso de planeamento
Há eventos anuais que nunca perco: os Óscares, o festival da Eurovisão, a final da Taça de Inglaterra e a eliminação do Porto da Taça da Liga. Já faltam adjetivos para descrever os 14 (!) insucessos do Porto nesta competição. Mas já chega de Futebol Clube do Porto e das suas desventuras no reino da Taça da Liga. É que na final defrontaram-se os dois protagonistas de uma telenovela que remonta aos tempos de Godinho Lopes, o sétimo
Luca Waldschmidt é o último caso positivo a saber-se no dia em que arranca a final four da Taça da Liga, já inevitavelmente manchada por acusações do FC Porto ao Sporting e uma resposta que levanta também questões: um erro laboratorial que já foi desmentido pela Unilabs. A pandemia comunicacional juntou-se à sanitária. Mas convém não perder a perspectiva: o que interessa é a saúde dos que foram, estão ou podem ficar infectados
Foi uma mudança de mentalidades e de costumes demasiado brusca para ser assimilada em tempo útil. Sérgio Conceição sentiu-se tão perdido como um cavaleiro medieval que aterrasse num clube de strip-tease. Há poucas semanas, em conferência de imprensa, o treinador do Porto até se tinha dado ao luxo de tratar Jorge Jesus com uma condescendência inaudita. Não só relatou um telefonema privado como contou ao mundo que, nessa conversa, tinha dito ao rival que não gostava de o ver tão macambúzio, que o queria “mais vivo”
O Sporting foi à Choupana, saiu de lá com três pontos e uma conta astronómica de lavandaria. Paulinho e os seus subordinados terão de trabalhar horas extra, está visto. O jogo não foi um daqueles espetáculos a que assistimos com binóculos de ópera, antes uma reencenação de batalhas medievais com agricultores, camponeses e servos da gleba dispostos a dar a vida por um alqueire ou meia-dúzia de couves
O treinador e comentador Blessing Lumueno escreve sobre a eterna discussão entre o bom e o mau futebol, que não é, explica, nada subjetiva, ao contrário do que se costuma dizer: "Fala-se do futebol como se fosse um jogo sem regras e sem constrangimentos que nos indiquem quais são os caminhos que maior probabilidade de sucesso nos dão em relação a outros"
O ex-árbitro Duarte Gomes reflete sobre a utilização do videoárbitro, no futebol português e mundial, e elogia o Conselho de Arbitragem da FPF, que "está a fazer um investimento enorme na educação do seu quadro principal"
"Entre os simplórios que aderiram a esta ferramenta como se fosse o elixir da sapiência, destacam-se aqueles que a usam para justificar estratégias ultradefensivas", escreve Nuno Amado, "convencidos em cima disso de que a novíssima ferramenta dos Expected Goals (xG) permite medir com eficácia a putativa qualidade dessas oportunidades"
Traduzindo, parece que a culpa do Benfica ter cedido dois pontos é de Diogo Gonçalves: Gilberto saiu lesionado aos 47’, o português entrou minutos depois e foi pelo lado dele que o Santa Clara chegou ao empate, disse o treinador. Ou seja, o resultado de uma equipa em cima da qual foi despejada uma centena de milhões de euros depende de um só jogador e de uma só substituição. É um argumento absurdo
“Como se não bastasse ao adepto benfiquista sofrer com a exibição semanal das misérias da equipa”, escreve Bruno Vieira Amaral, “agora ainda tem de se preocupar com o estado anímico de Jorge Jesus”
Um dia, Sérgio Conceição correu porta fora e parou quando voltou a entrar. No dia seguinte, abriu a porta, correu e só parou outra vez quando voltou a entrar. Depois, nunca mais parou, nem de correr, nem de ganhar: uma Liga, uma Taça, uma Supertaça e um lugar nos oitavos-de-final da Champions. É o homem do ano 2020
Bruno Vieira Amaral refere-se à defesa providencial de Adán no jogo entre o Sporting e o Belenenses SAD que resultou no triunfo leonino. Mas esta crónica também é sobre a sua adolescência, uma quase defesa e sobre o Sandro, que faleceu há duas semanas
Diz-se que combatentes espalhados na linha ocidental jogaram "amigáveis" com quem estava na barricada oposta. Amigáveis disputados em terras de ninguém, que é como quem diz em terreno neutro. Entre as trincheiras de uns e as trincheiras de outros
Na quarta-feira, o antigo central foi ao centro e impôs os seus 1,96m e os seus muitos quilos e a sua voz aos jogadores do Benfica, alguns deles ex-colegas. Apontou-lhes o dedo e eles mantiveram-se impassíveis, de cabeça baixa perante o peso simbólico do antigo capitão cuja fúria Rui Costa tentou suavizar sem sucesso - porque Luisão voltaria à carga. Luisão e Jorge Jesus partilham uma longa história que não começou especialmente bem, em 2009, mas o xerife parece o único capaz de sacudir a letargia deste Benfica estranhamente resignado
O escritor Bruno Vieira Amaral pegou na muleta linguística que está a fazer escola ao nível daquilo que é o comentarismo desportivo, dentro do que é aquilo que se faz por cá. O tema é: Benfica, na medida do que é possível
"Por cada lance clarinho como a água, há meia dúzia de outros de análise 'impossível' de reunir consensos", escreve o ex-árbitro Duarte Gomes, pelo que nada no futebol é 100% claro
Ao ver o derby de Manchester, Bruno Vieira Amaral não sentiu nada inteligente, nem ficou espantado com a argúcia dos treinadores, apenas mortalmente aborrecido. Depois de assistir a hora e meia de tortura, recordou-se de uma frase dita por Jorge Valdano, esse estranho centauro dois terços lírico, um terço pragmático, cujo significado é mais ou menos este: "se alguém puser merda pendurada num pau haverá sempre quem considere isso uma obra de arte"
"Anda tudo aos papéis e ninguém sabe ao certo que papel desempenhar", escreve Bruno Vieira Amaral sobre o Benfica de Jorge Jesus, que joga como se o treinador "tivesse chegado ontem" à Luz
OK, a Liga Europa é a Champions dos pobres e o Lech é a “equipazita” de um grupo acessível, também estamos de acordo, mas o jogador do Benfica tem cinco golos e dois passes para golo em cinco jogos disputados, um deles como suplente utilizado. É o jogador mais influente da competição e isso é notável - mas desconfio que não seja suficiente para nos abandonarmos em elogios ao homem. Porquê?
O ex-árbitro Duarte Gomes tenta esclarecer dois lances muito semelhantes, no Marítimo-Benfica e no FC Porto-City: choque entre avançado e guarda-redes e... penálti?
Passam-se sete dias da morte de Maradona, a Tribuna Expresso viaja até ao México-86 para explicar o que por lá aconteceu. Jogo por jogo, com análises e confissões, num texto que é uma homenagem ao futebolista cósmico a quem chamaram Deus
"Nas suas palavras sábias, avessas a mitificações e a providencialismos baratos, pressentia-se um conhecimento profundo do futebol e das pequenas coisas que tantas vezes determinam o sucesso ou insucesso. O mister Vítor Oliveira sabia muito. Sobre futebol. Sobre a vida. E para isso, infelizmente, não há prémio 'The Best'", escreve Bruno Vieira Amaral sobre o treinador que nos deixou este fim de semana
Ninguém diria que Mourinho se transformaria com o tempo num guru das redes e num storyteller de ocasião, mas há séculos que o darwinismo associa a adaptação à sobrevivência das espécies: Special One, Happy One, Social Media One. E isto talvez seja uma das chaves para a sua reabilitação: o treinador, como ele próprio diz na sua nova persona, abraçou finalmente a mudança dos tempos. Hoje há Tottenham - Chelsea (16h30, SportTV)
Pedimos a um argentino radicado em Portugal para nos explicar o que é, então, a Argentina e o que representou Maradona para os seus compatriotas. Um retrato de um país que é diferente de todos os outros da América Latina, que combina uma enorme classe média, bem rara no continente, com a insolência plebeia