O que se passou entre Sérgio Conceição e Paulo Sérgio é censurável, triste e vergonhoso? É, mas tenho um fraquinho por zaragatas e sururus
Duvido que o que aconteceu no Portimonense - FC Porto seja assim tão mau, como oiço alguns dizer, para o espetáculo. Pois nem todos os espetáculos são edificantes, que o digam os cristãos que eram servidos aos leões em Roma. Talvez seja essa a única maneira de a nossa Liga competir com as ligas mais poderosas: garantindo que todas as jornadas têm o seu sururu ou, para usar um eufemismo do jornalismo desportivo, “uma troca de palavras mais acesa” comentada por psicanalistas, especialistas em leitura de lábios e técnicos da APAV. Em alternativa, todas as jornadas poderiam ter o seu momento “As Tardes da Júlia” em que não destoariam o abraço filial e as lágrimas do jovem que ainda há duas semanas tinha quinze anos
22.03.2021 às 9h46

LUIS FORRA
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Se bem se lembram, e se não se lembram eu recordo-vos, semanas atrás tivemos direito a uma visão rara num campo de futebol. Dentro do relvado, ou junto à linha, perdoem-me se estiver a ser impreciso, pai e filho, abraçados, flébeis (esta é só para chatear), festejavam uma vitória ou um penalty. Cantaram-se odes ao amor paternal, ao respeito filial, à harmonia familiar. Que emoção! Que beleza! Adeptos dos clubes adversários mais propensos ao sentimento puseram de lado os velhos agravos e juntaram-se ao coro, limpando com as costas da mão a lágrima que escorria pelo rosto.
Esta semana, anteontem, que está tudo mais fresco na memória, outro momento de comoção. Um jovem que ainda há duas semanas tinha quinze anos (assim repetiam os adeptos deste clube porque dizer dezasseis de certa forma cortava o efeito da precocidade) estreou-se em jogos oficiais pela equipa principal e, no final, abraçado pelos colegas, chorou e beijou o símbolo ao peito. “Isto é o futebol!”, “É a beleza do desporto!”, “Viva a poesia!”, exclamavam os adeptos que há uns anos acompanhavam o presidente do clube na exigência da exibição pública de uma certidão de nascimento.
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