“Sou eu que estou a ser julgado?”: Doyen quer juntar cadastro limpo de Nélio Lucas, defesa de Rui Pinto quer todos os registos anteriores
De facto, o mais recente registo criminal, de 2019, está limpo, mas o mesmo não acontece com anteriores registos criminais de Nélio Lucas, que incluem vários processos, incluindo por passagem de cheques sem cobertura
05.11.2020 às 11h52
Secretismo. Nélio Lucas na única vez em que se deixou fotografar nos escritórios da Doyen Sports Investments, em Londres
FOTO Stéphane Lagoutte/REA/4see
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A advogada da Doyen pediu esta quinta-feira em tribunal que o mais recente registo criminal de Nélio Lucas seja junto ao processo de Rui Pinto. Sofia Ribeiro Branco explicou que isso "serve de contraprova à contestação (de Rui Pinto) de que o senhor Nélio Lucas tem no registo criminal vários crimes".
De facto, o mais recente registo criminal, de 2019, está limpo, mas o mesmo não acontece com anteriores registos criminais de Nélio Lucas, que incluem vários processos, incluindo por passagem de cheques sem cobertura: em março de 2000, foi caçado a conduzir sem carta e pagou uma multa de €319; em novembro de 2000, passou um cheque sem cobertura e pagou uma multa de €600; a 29 de novembro de 2000, passou outro cheque sem cobertura e pagou uma multa de €720; em 2002, cometeu um delito fiscal, foi julgado pelo mesmo em 2005 — e pagou uma multa de €1190 em maio de 2007.
Esse passado do antigo sócio e presidente da Doyen é referido pela defesa de Rui Pinto na sua contestação à acusação por 90 crimes e o advogado Francisco Teixeira da Mota defendeu esta quinta-feira que se o mais recente registo criminal de Nélio Lucas for junto ao processo, também os registos anteriores têm de ser incluídos, o que teve a concordância do coletivo de juízes.
Nélio Lucas comentou no julgamento: "Desculpem, mas sou eu que estou a ser julgado?".
A juíza Margarida Alves respondeu então que a questão do mais recente certificado de registo criminal foi invocada pela sua própria defesa.
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