Sem calendário definido, sem pódio, sem champanhe, mas com recordes para bater: um guia para a nova temporada da F1
A temporada de 2020 da Fórmula 1 arranca este fim de semana na Áustria, mais de três meses depois do previsto, 217 dias após o GP Abu Dhabi de 2019. A culpa é da covid-19 e da pandemia que vai afetar de tudo um pouco na nova época: do calendário (que poderá ter Portimão), até à vida no paddock. Mas também há coisas que nunca mudam: Lewis Hamilton pode tornar-se estatisticamente no melhor piloto de sempre e o mercado também não parou em tempos do novo coronavírus
02.07.2020 às 14h19

Mark Thompson/Getty
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O calendário - a ser revisto e atualizado
A pandemia da covid-19 veio baralhar um calendário para 2020 que na prática seria o mais extenso da história, com 22 corridas e direito a uma estreia (Vietname) e um regresso (Holanda). Por esta altura, apenas uma certeza: há oito provas confirmadas e, até final, o calendário será seguramente revisto e atualizado, conforme a paz que a pandemia nos possa ou não dar.
Tudo arranca na Áustria, este domingo, com o circuito de Spielberg a receber nova prova na próxima semana. A caravana segue então para a Hungria (19 de julho), Reino Unido (2 e 9 de agosto), Espanha (16 de agosto), Bélgica (30 de agosto) e Itália (6 de setembro). Daí para a frente, a incógnita. Quase certa parece a inclusão do circuito de Mugello, também em Itália e propriedade da Ferrari, logo na semana seguinte à prova de Monza. E em finais de setembro/inícios de outubro o regresso da Fórmula 1 a Portugal é uma forte hipótese, caso a Liberty escolha o Autódromo Internacional do Algarve para acomodar mais uma das corridas europeias.
De acordo com Ross Brawn, diretor desportivo da F1, o final da época parece estar também mais ou menos definido; ou melhor, tão definido quanto a pandemia nos permite neste momento: Abu Dhabi deverá manter-se como a última corrida do ano, em dezembro, e antes disso o circuito de Sakhir, no Bahrain, que deveria ter acolhido a segunda prova do calendário, poderá receber uma dupla jornada de Fórmula 1.

Uma imagem que poderemos voltar a ver em 2020: um carro de F1 na pista de Portimão. E agora em corrida
FRANCISCO LEONG/Getty
Os recordes que podem cair em 2020
A temporada de 2020 será mais curta do que habitualmente, mas ainda assim há vários recordes, alguns deles históricos, que estão em perigo este ano. E que poderão consolidar a condição de Lewis Hamilton como o melhor piloto de sempre. Pelo menos estatisticamente.
Por esta altura não sabemos quantas corridas terá 2020, mas seguramente mais do que as oito para já confirmadas e oito é o número de vitórias que Lewis Hamilton necessita para ultrapassar Michael Schumacher no topo da lista dos pilotos com mais triunfos na F1 - o alemão tem 91. Numa temporada normal, o recorde estaria em perigo iminente de cair. Numa época mais curta devido à pandemia da covid-19 e em que, na melhor nas hipóteses, teremos 15 a 18 corridas, continua tremido, mas teremos de ver um Hamilton absolutamente dominador para que tal aconteça - o que, aqui entre nós, não espantaria ninguém.
Bastante mais exequível para o britânico, que esta temporada pode chegar ao 7.º título mundial e igualar Schumacher nessa lista, será o recorde de número de pódios: Schumacher tem 155, a Hamilton faltam apenas quatro para lá chegar, o que, face aos que se passou na última década na Fórmula 1, parece peanuts para o homem da Mercedes.
E, por falar em Mercedes, os alemães podem chegar ao sétimo título consecutivo de construtores, uma ultrapassagem pela direita à Ferrari, com seis, tal como a construtora germânica.
As circunstâncias fazem com que a temporada de 2020 possa ser uma das mais atípicas dos últimos anos e por isso este também é um recorde que vale a pena anotar: caso no final da época, seja lá quando e onde ele for, Max Verstappen (Red Bull) ou Charles Leclerc (Ferrari) se sagrem campeões mundiais, serão os mais jovens de sempre a fazê-lo. O mais novo campeão do Mundo foi Sebastian Vettel, que tinha 23 anos e 134 dias em 2010, ano do seu primeiro título.

2020, o último ano de Vettel na Ferrari
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A dança das cadeiras - porque 2021 arrancou ainda antes de 2020 começar
Que o defeso da Fórmula 1 acontece em plena época anterior, não é novidade nenhuma. Já ver uma temporada a definir-se ainda antes de outra arrancar é mais raro. Mas em tempos de pandemia, a lógica já não tem lógica alguma. A decisão de Sebastian Vettel abandonar a Ferrari no final de 2020 acabou por precipitar um efeito dominó na grelha, com a equipa italiana a assinar com Carlos Sainz, que deixa assim a McLaren, que por sua vez foi à Renault "roubar" Daniel Ricciardo.
E isto deixa ainda algumas pontas soltas para 2021: voltará Fernando Alonso para a Renault? A chegada da Aston Martin, a nova designação da Racing Point a partir do próximo ano, significará troca de pilotos? Terá Vettel carro daqui a um ano? E Kimi Räikkönen: será este o último ano do finlandês na Fórmula 1?

O novo normal no paddock: menos gente, distância social e máscara obrigatória
Peter Fox/Getty
O protocolo: sem champanhe, nem sequer pódio, equipas em bolhas
A Fórmula 1 vai arrancar na Áustria, um dos países que melhor lidou com a pandemia da covid-19, e para já sem público, algo que a Fórmula 1 poderá rever mais para a frente no calendário, caso a situação pandémica assim o permita. Mas essa está longe de ser a única limitação: aliás, a Fórmula 1 que veremos a partir deste fim de semana será muito diferente da que até hoje conhecíamos.
O paddock estará significativamente menos congestionado, já que apenas o pessoal essencial à corrida (um máximo de 80 pessoas por equipa) está autorizado a palmilhar a área. Não haverá, portanto, lugar para convidados, sponsors, boa parte da fauna e flora que de duas em duas semanas se passeia pelos circuitos. Os poucos jornalistas autorizados também não terão acesso à pista e todas as entrevistas e conferências de imprensa seguirão as regras do distanciamento social.
A todos os elementos autorizados a entrar no paddock - os que tenham prova de teste negativo à covid-19 - será feita a medição da temperatura antes da entrada no perímetro do circuito. O uso de máscaras é obrigatório nos locais comuns e o distanciamento social é exigido tanto quanto possível.
Sem definir períodos de tempo, a F1 fala de testes à covid-19 feitos de forma "frequente" e pede às equipas que se isolem em bolhas, digamos, sem qualquer interação com elementos de outras equipas, o que, no caso de surgir algum positivo, poderá ajudar a conter a propagação do vírus a um número restrito de pessoas.
Para os adeptos que assistem na televisão, incaracterístico vai ser não assistir à cerimónia do pódio. Porque ela não vai existir este ano. Nem entrega de troféus, nem o típico champanhe. No final de cada corrida, os três primeiros deverão ter uma pequena cerimónia simbólica na pista.
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“Quando o Hamilton agradece ao pessoal na fábrica sentimos aquele orgulho. E depois há sempre champanhe.” João Neto, o português da Mercedes
Tem apenas 25 anos, trabalha como engenheiro de software e é o único português na divisão de Fórmula 1 da marca alemã, que tem dominado o desporto nos últimos seis anos. Quando o campeonato de 2020 está prestes a começar, fomos perceber qual é o trabalho de João Neto e a resposta é ao mesmo tempo a mais simples e complexa do desporto: dados, dados, dados