Sarri, sobre amor e ódio em Itália: “Se estás a ficar marreco é porque és atacado continuamente, odiado por todos”
O treinador diz que há amor e há ódio em Itália, sobretudo um ódio generalizado e concertado contra o clube que treina, a Juventus. E garante que na Premier League, em Inglaterra, de onde saiu a “chorar com muitos dos seus jogadores” do Chelsea, é tudo muito mais saudável
18.04.2020 às 12h11

MARCO BERTORELLO
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O percurso de Maurizio Sarri é muito particular: um futebolista amador, filho de um operário que estudou e se tornou bancário enquanto treinava equipas modestíssimas em part-time, porque do que ele realmente gostava era de futebol. Sarri deu o salto providencial quando foi parar ao Empoli, em 2012, e três anos depois deu um pulo ainda maior até Nápoles, que transformou num objeto de culto.
A história era boa demais para não colar: um napolitano de meia-idade de cigarrinho no canto da boca e soundbites totalmente imprevisíveis fazia renascer o Nápoles que enfrentaria corpo a corpo a poderosíssima equipa do norte: a Juventus de Turim.
Perdeu, como muitos outros perderam antes e depois dele, mas ganhou o estatuto de ícone: Sarri, a bandeira do bom futebol, de princípios inegociáveis. Foi para o Chelsea, ganhou a Liga Europa, e esta época veio para a Juventus, aquele clube que, garante em entrevista à TV da “Vecchia Signora”, toda a gente quer odiar em Itália.
“Estamos rodeados de amor em qualquer lugar de Itália, mas também de ódio. E esta é uma coisa que tu percebes só quando estás na Juve. Somos sempre favorecidos pelos árbitros, e depois vês as estatísticas e percebes que não é bem assim”, disse Sarri. “Fui assobiado em Nápoles, onde nasci e dei tudo, e em Turim os adeptos da Fiorentina cantaram em coro, insultando a minha mãe. Se ficas marreco, é porque estás a ser atacado continuamente de fora e és odiado por toda a gente” , lamentou-se Sarri.
[Contexto sobre o futebol italiano: a Juventus desceu à segunda divisão, em 2006, no âmbito do caso Calciopolis, em que clubes compraram resultados; mas também desceram a Fiorentina e a Lazio, e o AC Milan recomeçaria o campeonato seguinte com 30 pontos negativos.]
Sarri, que também chora. “Nunca o fiz publicamente, mas em casa, sozinho, já deitei muitas lágrimas. Acho que faz parte, com a paixão que metes no teu trabalho. Não é um sinal de fraqueza”. E então conta uma daquelas histórias que normalmente nascem e morrem nos balneários, sem darem sinais de vida. “Tive problemas, conflitos nos primeiros meses com o plantel do Chelsea. Depois, quando disse aos jogadores que me ia embora após a final da Liga Europa, chorei e muitos deles também choraram.”
Apesar de tudo – apesar do 4-1 ao Arsenal nessa final europeia no Azerbaijão, apesar das “saudades do ambiente saudável da Premier League” – Sarri, o homem que “não dá palmadinhas nas costas” e “te aponta os erros na cara”, regressou a Itália e às suas memórias.
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