Sobre reduções salariais: quanto ganham FC Porto, Benfica e Sporting com televisões e venda de jogadores? E quanto gastam em ordenados?
À partida, os argumentos que enquadram uma redução salarial nos planteis são estes: perdas de rendimentos com direitos televisivos, mercado de transferências e uma massa salarial elevada para sustentar. Mas, afinal, o que representa cada um dos itens no quadro geral dos três grandes?
07.04.2020 às 10h15

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Ainda não sendo um facto consumado, os três grandes (FC Porto, Benfica e Sporting, pela ordem na classificação desta Liga) devem avançar para um corte salarial nos seus plantéis, com o acordo dos seus jogadores e do Sindicato.
Os argumentos que enquadram uma decisão destas - que é, obviamente, excecional - são a perda de rendimentos em contexto da pandemia do novo coronavírus que terá consequências evidentes.
Primeiro, os operadores de TV irão provavelmente deixar de pagar em abril, porque não há jogos - a propósito disto, a Altice foi bastante clara quando, assumindo que iria respeitar os acordos de março, disse estar a pagar por um produto que não estava a ser produzido; era, portanto, uma espécie de 'borla'.
Segundo, o mercado de transferências irá necessariamente contrair, porque a janela para as transações, que abriria a 1 de julho, está adulterada - a FIFA recomendou (repetimos, recomendou) que os clubes europeus não vendessem ou contratassem futebolistas até os campeonatos estarem terminados.
Terceiro, sem jogos, não há receita de bilheteira e o merchandising também quebra.
Das três ordens de razões, as duas primeiras são as mais significativas, sobretudo a segunda, pois é normalmente a vender os passes de futebolistas que os três grandes retiram maiores proveitos para equilibrar balanças.
Por isso, a Tribuna Expresso faz, agora, uma radiografia aos últimos Relatórios & Contas semestrais de FC Porto, Benfica e Sporting para tentar perceber o impacto da crise. Quanto ganham FC Porto, Benfica e Sporting com televisões e venda de jogadores (e quanto gastam em ordenados) são respostas que daremos a seguir.
O azul no vermelho
No último R&C do FC Porto, ficou claro que a administração portista estaria obrigada a vender no próximo verão, porque os números eram definitivamente preocupantes: prejuízo de 51,8 milhões de euros.
A SAD portista justificou o deslize com dois factos: o FC Porto não vendeu os seus melhores futebolistas para não sacrificar objetivos desportivos; e os jogadores cujos passes foram amortizados renderam muito pouco. Óliver e Galeno, para o Sevilha e para o Sporting de Braga, realizaram, respetivamente, 390 mil euros e 1.282 milhões de euros de mais-valias no final de todas as contas.
Por outro lado, o FC Porto gastou mais de 55 milhões de euros em Zé Luís, Nakajima, Uribe, Luís Diaz, Marchesin e Marcano.
Quanto aos outros rendimentos operacionais, destacam-se os direitos televisivos (18 milhões de euros), os prémios UEFA (9,397 milhões de euros) e os patrocínios (11,979 milhões de euros). Já os gastos com o pessoal cifram-se nos 43,5 milhões de euros.
O pequeno João grande
O Benfica apresentou resultados históricos no último R&C semestral: um lucro de 104 milhões de euros, um valor extraordinário que liberta um bocadinho mais o clube encarnado, cuja saúde financeira não tem comparação em Portugal.
Mas há um pequeno grande detalhe: estes 104 milhões euros justificam-se, muito, num único movimento, a saber, a venda de João Félix para o Atlético de Madrid que gerou uma mais valia de 108,2 milhões euros ao Benfica.
É claro que a participação na UEFA (47,9 milhões de euros), os direitos televisivos (22,2 milhões de euros) e os patrocínios (10 milhões de euros) também contribuíram à sua escala para todo este desafogo, mas é inegável a importância do mercado de transferências no clube da Luz. Daí o constante elogio da cúpula dirigente a Jorge Mendes, o parceiro preferido nos negócios - só de Félix, a Gestifute recebeu do Benfica 12 milhões de euros em comissões.
Em sentido inverso, o Benfica gastou 51,3 milhões de euros em apenas quatro jogadores: Morato (7,55 milhões de euros), Chiquinho (5,25 milhões de euros), Carlos Vinícius (17,592 milhões de euros) e Raúl de Tomás (20,875 milhões de euros)
Por outro lado, o Benfica é o que apresenta os valores mais chorudos na rubrica "gastos com pessoal": 46 milhões de euros.
De crise em crise
O Sporting é um caso muito particular: as contínuas convulsões internas que resultam em mudanças de direção e administração (e ainda a invasão de Alcochete) deixam o clube de Alvalade num sobressalto constante.
No último R&C semestral, o Sporting apresentou lucro de 2,8 milhões, uma quebra de 56% face ao período homólogo. Porquê? "O valor relativo às indemnizações por rescisão de contratos de trabalho desportivo [no pós-invasão a Alcochete] ascende a 6,6 milhões de euros", especifica o documento.
O Sporting gastou 41 milhões a comprar jogadores e ganhou 43 milhões a vendê-los, entre os quais, Raphinha (21 milhões de euros) ou Thierry Correia (12 milhões de euros) e o acordo por Podence (7 milhões de euros) - a venda de Bruno Fernandes ao Manchester United e a contratação do treinador Rúben Amorim, ambas já em 2020, não estão contempladas neste R&C.
Outros rendimentos do Sporting são estes: direitos de televisão (12 milhões de euros), patrocínios (7 milhões de euros) e prémios UEFA (8 milhões de euros).
A massa salarial do SCP é a mais baixa dos três grandes: 35 milhões de euros.
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