"Conquistámos uma grande vitória": direção do Desportivo das Aves congratula-se por jogo contra o Benfica
A direção do clube, presidida por António Freitas, elogiou a atitude dos jogadores e adeptos, sublinhando o "tremendo esforço" que existiu para se realizar a partida de terça-feira, em que o Aves perdeu (0-4) em casa, frente ao Benfica, dois dias após a SAD não autorizar a equipa a treinar. O plantel não recebe salários há três meses
22.07.2020 às 17h08

JOSÉ COELHO/LUSA
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A direção do Desportivo das Aves congratulou-se, esta quarta-feira, com o “tremendo esforço” evidenciado na organização logística da receção de terça-feira ao Benfica, no jogo de encerramento da 33.ª jornada da I Liga de futebol.
“O dia de ontem [terça-feira] ficará marcado na história do futebol e foi um dos mais emotivos na vida dos avenses. A concretização com sucesso (seguindo todos os procedimentos legais e habituais) deste jogo - fruto do tremendo esforço feito por esta direção, em coordenação com a Liga Portugal - foi o culminar de vários dias de indecisão, luta e perseverança”, lê-se numa nota do corpo diretivo de António Freitas nas redes sociais.
A SAD do Aves informou, no domingo, que não iria comparecer ao duelo com o Benfica devido à anulação da apólice de seguro de acidentes de trabalho, que o clube desbloqueou no dia seguinte, tendo assegurado duas baterias de exames negativos à covid-19, obrigatórias ao abrigo do protocolo de reinício da I Liga em plena pandemia.
Os futebolistas, treinadores e outros funcionários deslocaram-se em viaturas pessoais até ao estádio no dia do desafio, colmatando o desconhecimento do clube sobre o paradeiro das chaves do autocarro, a cargo da administração do chinês Wei Zhao, que estava estacionado ao lado do veículo que transportou o vice-campeão nacional.
“O profissionalismo e entrega dos atletas, equipa técnica, médica e ‘staff’, a cobertura da imprensa, a atuação irrepreensível das forças de segurança, as imensas expressões de apoio e o inigualável amor dos adeptos dá-nos uma força tremenda para continuarmos a lutar em defesa do nome do honrado Clube Desportivo das Aves”, prossegue a nota.
A formação de Nuno Manta Santos foi impedida de treinar dois dias antes da derrota frente ao Benfica (4-0), na qual os titulares se recusaram a jogar o primeiro minuto e os suplentes abraçaram-se à equipa técnica, enquanto os encarnados se recriavam com o esférico e aplaudiam o gesto de protesto do emblema do concelho de Santo Tirso.
Os jogadores subiram ao relvado mesmo com três meses consecutivos de vencimentos em atraso, que resultaram nas desvinculações unilaterais dos guarda-redes Quentin Beunardeau e Raphael Aflalo, do defesa Jonathan Buatu, dos médios Aaron Tshibola, Estrela e Pedro Delgado e dos avançados Kevin Yamga e Welinton Júnior.
“Há dias em que o futebol é muito mais do que aquilo que se passa dentro das quatro linhas. Ontem conquistamos uma grande vitória. O caminho é árduo e sinuoso, mas a paixão pode tudo e o destino final só pode ser bonito”, terminam os nortenhos, cujo “esforço e dedicação” foram enaltecidos pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional.
Horas antes do encontro, a administração dos avenses viu ser arquivado um processo disciplinar associado ao incumprimento salarial de março a abril, num desfecho do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) idêntico à decisão sobre o atraso de vencimentos entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020.
Fonte da FPF disse à Lusa que a absolvição se deveu a uma questão processual, pois ainda não tinha terminado o prazo para que a SAD do Aves fizesse prova da inexistência de dívidas quando a Liga de clubes avançou com a participação, devido à suspensão dos prazos administrativos, decidida pelo Governo, por causa da pandemia de covid-19.
Já fonte do organismo presidido por Pedro Proença explicou à Lusa que “a direção da Liga não podia compactuar com a falta de pagamento de salários” e decidiu avançar com uma ação disciplinar ao lanterna-vermelha do campeonato em 9 de junho, alegando uma eventual infração do artigo 78.º - A do Regulamento de Competições.
A 6 de maio, fonte dos nortenhos adiantou à agência Lusa que os salários de março seriam liquidados na totalidade, enquanto 35% das verbas de abril e maio estariam cativadas devido à paragem provocada pelo novo coronavírus, sendo repostas com o regresso da competição, mas a promessa ainda não foi cumprida por Wei Zhao.
A decisão do Conselho de Disciplina da FPF impede uma penalização de dois a cinco pontos, face aos 17 somados em 33 jornadas pelo Desportivo das Aves, que confirmou a despromoção à II Liga em 29 de junho e despede-se com a deslocação ao Portimonense, 17.º e penúltimo colocado, com 30 pontos, no domingo, às 19:30, no Portimão Estádio.
A SAD ameaçou na sexta-feira faltar ao encontro da 34.ª e derradeira jornada, de forma a “salvaguardar a transparência na luta pela permanência”, receando “não reunir jogadores suficientes e que garantam uma equipa competitiva” frente aos algarvios, que lutam com Vitória de Setúbal (16.º, com 31 pontos) e Tondela (15.º, com 33) pela manutenção.
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