"Não sei como conseguem sobreviver": associação de jogadores angaria dinheiro para ajudar funcionários do Desportivo das Aves
A associação “Do Futebol para a Vida”, criada por jogadores do Campeonato de Portugal, está a angariar fundos para compensar salários em atraso de 14 funcionários do Desportivo das Aves, despromovido à II Liga
29.07.2020 às 11h16

MIGUEL RIOPA
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A associação “Do Futebol para a Vida”, criada por jogadores do Campeonato de Portugal, está a angariar fundos para compensar salários em atraso de 14 funcionários do Desportivo das Aves, despromovido à II Liga.
“Eles não têm salários muito altos e choca-me o facto de estarem há vários meses sem receber. Estão em causa uns quatro, cinco ou seis meses de vencimentos em atraso. A ganhar aquilo que ganham e tendo filhos e contas para pagar, não sei como conseguem sobreviver. É uma situação complicada”, contou à agência Lusa o médio Rúben Oliveira.
Face às dificuldades financeiras atravessadas pelos nortenhos nesta temporada, vários companheiros de profissão contactaram “há mais ou menos uma semana” o futebolista do Desportivo das Aves, que se prontificou a elaborar “uma lista das pessoas do clube que estavam a precisar mais de ajuda”, de forma a elucidar “as prioridades de cada um”.
“A associação disponibilizou-se para ajudar de várias maneiras, tanto financeiramente como a nível de alimentação. Até agora tem ajudado mais na parte financeira. Felizmente o clube, e não a SAD, está a tratar da alimentação e tudo tem estado mais ou menos orientado”, enalteceu o centrocampista cedido pelo Vitória de Guimarães.
Criada em 14 de abril pelos capitães do Real e do Loures, o luso-guineense Ibraim Cassamá e Hugo Machado, a causa solidária “Do Futebol para a Vida” puxou pela proatividade dos colegas sintrenses Sandro Lima, Paulinho e Daniel Almeida e ganhou dimensão através das redes sociais para gerar auxílio durante a pandemia de covid-19.
Os pedidos extravasaram a Série D do Campeonato de Portugal e convocaram a solidariedade de diversos quadrantes do futebol nacional, que compraram bens de primeira necessidade ou depositaram quase 38.500 euros até 17 de julho numa conta bancária apropriada, apoiando 171 atletas, 88 famílias de jogadores e 146 civis.
As doações destinadas aos funcionários do Desportivo das Aves podem ser efetuadas através de transferência bancária para o NIB 0036.0396.99106015516.17, enquanto decorre desde terça-feira o leilão de uma camisola de Thierry Henry, antigo avançado internacional francês e atual treinador dos canadianos do MontréalImpact.
A peça de vestuário produzida pela Nike para assinalar a última temporada dos ingleses do Arsenal no lendário estádio Highbury, casa dos ‘gunners’ entre 1913 e 2006, tem uma base de licitação fixada em 500 euros e reverterá a totalidade da quantia angariada até às 20:00 horas de quinta-feira para os colaboradores do último classificado da I Liga.
A iniciativa da associação “Do Futebol para a Vida” é complementada pela ‘One Goal Only’ [Apenas Um Objetivo, em tradução livre], que também foi erguida em plena pandemia e visa, através de leilões de camisolas autografadas de craques nacionais e estrangeiros, ajudar diversas entidades nacionais e internacionais de apoio social.
O leilão pode ser acedido através da página do projeto criado pelo português Filipe Macedo Alves na rede social Instagram e surge na sequência de uma semana atribulada do Desportivo das Aves, cuja administração liderada pelo chinês Wei Zhao acumula sucessivos incumprimentos salariais, responsáveis por 10 rescisões unilaterais de atletas.
“Quis ficar até ao fim para ajudar um clube que aprendi a gostar muito. Não condeno quem achou que rescindir era o melhor para o seu futuro. Cada um tem de ver a sua vida da melhor maneira e entendo isso, porque as pessoas têm contas para pagar e uma família. A SAD do Aves não foi correta comigo nem com ninguém”, frisou Rúben Oliveira.
O médio, de 25 anos, recebeu o último ordenado em março e assume que a ausência de “condições básicas” e as promessas de pagamento falhadas pelos administradores impediram a formação de Nuno Manta Santos, 18.ª e última colocada da I Liga, com 17 pontos, de “fazer um bom trabalho” numa “temporada muito desgastante e complicada”.
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