Covid-19. Liga vai perder €135 milhões em receitas, mas a quebra pode ascender aos €185 milhões
Caso o campeonato principal não tivesse sido retomado, as perdas causadas pelos efeitos da pandemia teriam sido mais do dobro, revelou Susana Rodas, diretora executiva da Liga de Clubes na área comercial e de marketing, durante a conferência “Futebol Profissional e Economia Pós-Covid-19", realizada esta quarta-feira pela entidade. Pedro Proença quer ter adeptos nas bancadas até final de 2020/21, mas, se não houver, a entidade estima que mais 50 milhões de euros serão perdidos. O Estado terá ficado sem 7 a 12 milhões em impostos oriundos da indústria do futebol
05.08.2020 às 11h40

Gualter Fatia/Getty
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"Vou explicar como, de repente, começou a correr mal."
Foi a frase inaugural e pouco auspiciosa de Susana Rodas, encarregue de resumir o impacto económico que a pandemia teve, tem e terá no futebol português, porque à paragem das competições, ao congelamento do dinheiro e à perda imediata de receitas virá, na próxima época, o mesmo número de jogos a serem feitos em menos tempo. "Mais o calendário internacional, que vai obrigar a períodos de quarentena para gerir", acrescentou a diretora executiva para as áreas comercial e de marketing da Liga de Clubes.
Que, de seguida, começou a detalhar as subtrações, em numerário e em percentagem, que a entidade estima sofrer devido aos efeitos da pandemia: 135 milhões de euros só de perdas em receitas, que teriam sido mais do dobro (€318,5 milhões) caso os jogos do campeonato não tivessem sido retomados. "Conseguimos recuperar a parte dos direitos televisivos, o que teve bastante impacto", enalteceu, durante a conferência “Futebol Profissional e Economia Pós-Covid-19", organizada, esta quarta-feira, pela Liga de Clubes.

A dirigente explicou como a paragem de quase três meses afetou "a condição física dos jogadores", causando-lhes "mudanças corporais" e "perda de massa muscular" que "desvalorizaram" os ativos dos clubes e, por arrasto, da Liga, que na época anterior registou cerca de €300 milhões em receitas com transferências. "Já se fala que a desvalorização dos plantéis é de 65%", revelou, lamentando que "a incerteza nas contratações, nas pré-épocas e nos jogos tem um impacto devastador nos clubes".
Caso não haja público nos estádios na próxima temporada, como nunca houve após a retoma do campeonato, Susana Rodas estimou que as perdas de receitas poderão rondar os €50 milhões.
Antes da sua apresentação, o palco fora ocupado por João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto e da Juventude que manteve a incógnita em relação a esta questão, mesmo que, antes, Pedro Proença tenha dado conta da sua intenção em contar com adeptos nos estádios já no arranque da próxima época. "Preocupa-nos que os efeitos poderão ser muito superiores a estas estimativas", admitiu a dirigente da Liga de Clubes.
Susana Rodas defendeu que "as Sociedades Desportivas estão de parabéns pela forma como resolveram, nos últimos tempos, a questão dos custos e das receitas", apesar de ser pública a situação do Desportivo das Aves, onde o plantel está há quatro meses sem receber salários e o clube chumbou nos requisitos de licenciamento da Liga para participar nas provas profissionais. A diretora executiva da entidade revelou que houve "uma poupança de 96 milhões de euros nas tesourarias das SAD, devido a lay-offs e renegociação de contratos".
Como onde de choque das perdas que afetaram a Liga e os clube, o Estado, acrescentou, "terá perdido entre 7 a 12 milhões de euros em impostos", mas a diretora, ao concluir, comparou a situação portuguesa ao que aconteceu em França: "o Estado francês viabilizou um empréstimo de 244 milhões ao futebol profissional. Se as nossas equipas já têm dificuldades a competirem a nível internacional, elas ainda serão maiores. Ficaremos com orçamentos e apoios ainda mais diferentes".
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