Flamengo: Jesus liberta, Jesus esmaga
O Mengão está na final da Copa dos Libertadores após uma vitória histórica por 5-0, diante do Grémio, que resultou de uma exibição esmagadora. Não poderia ser de outra forma: os melhores jogadores, a melhor equipa e o melhor treinador estão no Maracanã. Agora, venha o River Plate
24.10.2019 às 3h46

Buda Mendes
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O Flamengo está na final da Copa Libertadores 38 anos depois e o homem a quem os 39 milhões de adeptos prestam reverência tem 65 anos, rugas respeitáveis a condizer, melenas no cabelo branco e um nome divino a que junta uma piada que gosta de repetir: “Sou Jesus, mas não faço milagres”.
Para os flamenguistas, do clube que se expandiu ao mesmo tempo que a Globo no extenso território brasileiro, Jesus não será santo - mas é milagreiro.
O Flamengo lidera o Brasileirão, com 10 pontos de avanço. O Flamengo pode conquistar a liga dos campeões da América do Sul que garante disputar outro título simbólico para este continente: o Mundial de Clubes. E, fundamentalmente, o Flamengo faz tudo isto a jogar ao ataque, destemido, colorido e folclórico, demonstrando que está um nível acima dos restantes com ocasionais atropelos futebolísticos.
O Grémio de Porto Alegre foi o último a ser pisado.
Na segunda-mão da meia-final da Copa Libertadores, disputada esta madrugada no mítico Maracanã, Flamengo e Grémio tinham contas a ajustar: o Mengão é história do Brasil e o Grémio tem histórico numa competição que ganhou três vezes (1983, 1995 e 2017) contra uma (1981) do rival.
Mais do que isso: Jorge Jesus e Renato Gaúcho tinham contas a ajustar, porque o brasileiro disparara que o rival somava só três títulos aos 65 anos e o português respondeu: “São 14, e não três, como alguém disse”.
Ficou 5-0, 6-1 no somatório dos dois jogos, o resultado de um encontro profundamente desequilibrado, acima de tudo na segunda-parte, em que o Flamengo massacrou impiedosamente o adversário.
Na primeira-parte, não foi tanto assim. O Grémio tentou condicionar Gerson, e Jesus respondeu pondo Everton e Arrascaeta a jogar por dentro e a disparar para a área sempre que havia uma nesga entrelinhas. Como? Com Bruno Henrique e Gabigol sempre prontos para uma desmarcação em profundidade ou uma diagonal vertiginosa.
Houve oportunidades para ambos os lados, mas só o Flamengo marcou, numa arrancada de Henrique que passou a bola a Gabigol que a chutou para uma defesa incompleta que sobrou para o mesmo Henrique fazer o 1-0. A jogada resultou aos 42’ e fora ensaiada antes por estes ou outros protagonistas, procurando aproveitar o espaço entre o meio-campo e a defesa de Porto Alegre, já que o quarteto de Renato Gaúcho ficou sempre estacionado lá atrás, longe dos médios.
Jorge Jesus preferiu recuar Arão, em construção, subindo os laterais e pondo os extremos para fazer número e pressão, ajudando às tais triangulações em progressão.
Depois, veio a segunda-parte e com ela o Grémio foi varrido da competição.
Logo, logo a seguir ao intervalo, Gabigol disparou fortíssimo e ao ângulo, aos 46, e os rapazes de Renato Gaúcho sentiram o que era bater de frente com a intensidade prometida, mas adiada pelas circunstâncias; afinal de contas, esta era uma meia-final e era normal que a cautela e a ansiedade limitassem a acção.
Dez minutos depois, de penálti, o mesmo Gabigol fez o 3-0, e a diferença entre as equipas acentuou-se de forma tão esmagadora quanto o apoio que chegava freneticamente das bancadas do Maracanã. Assim, em menos de 15 minutos de jogo, 42 aos 56’, o Grémio passou de contendedor a espetador, alheado de um filme em que era suposto ser protagonista, perdido e desconcentrado dentro de campo.
As consequências seriam terríveis: aos 67’ e aos 71’, vieram o 4-0 e 5-0 das cabeças de Marí e Caio, em lances de bola parada, uma das especialidades de Jota Jota, para fechar a contagem como deveria ser, porque não poderia ser de outra forma: os melhores jogadores, a melhor equipa e o melhor treinador estão no Maracanã.
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