O 4.º árbitro do PSG-Basaksehir terá chamado "negro" a um treinador-adjunto. Os jogadores saíram de campo e o jogo foi adiado
A meio da primeira parte do PSG-Basaksehir, da última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões, o treinador-adjunto da equipa turca, Pierre Webó, foi expulso e o jogo foi suspenso porque, logo a seguir, todos os jogadores se terão recusado a continuar. A razão: o quarto árbitro terá, alegadamente, dirigido um insulto racista ao técnico camaronês e as duas equipas decidiram fazer algo em relação a isso. A UEFA vai analisar o incidente e o jogo será retomado esta quarta-feira, às 17h55, com uma nova equipa de arbitragem
08.12.2020 às 21h22

Anadolu Agency
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Pierre Webó é camaronês, foi futebolista, hoje é treinador-adjunto do Istambul Basaksehir e estava no banco da equipa turca no Parque dos Príncipes, estádio do Paris Saint-Germain, para o último jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões.
Aos 14 minutos, o árbitro encaminha-se na direção do banco dos turcos para expulsar o técnico camaronês. As câmaras focam, os ângulos apertam. O camaronês baixa a máscara, destapa a cara que está revoltada com a decisão e o faz gritar, enquanto tenta aproximar-se do quarto árbitro. O estádio está vazio e o silêncio já habitual que vem substituído o ruído de adeptos deixa os microfones captarem o que normalmente apenas se tenta ler em lábios.
- "Porque dizes negro?! Porque dizes negro?! Porque dizes negro?!".
Pierre Webó exclama mais do que pergunta. Exalta-se, está irrequieto, ainda nem Ovidiu Haţegan, o árbitro principal, esticou o braço com o cartão vermelho e já o camaronês fervilha na frente de Sebastian Colţescu, o quarto árbitro. Eles e os outros dois elementos da equipa de arbitragem são romenos, todos se acabam por congregar na zona que há entre os bancos de suplentes, como os jogadores. Toda a gente é atraída para lá.

Baptiste Fernandez/Getty
Futebolistas, treinadores, árbitros, elementos do staff das equipas, delegados ao jogo, toda a gente se mistura e a transmissão televisiva capta o que pode. De novo, os microfones.
Demba Ba, avançado senegalês que é um dos suplentes do Basaksehir, acerca-se de Sebastian Colţescu, o quarto árbitro, e confronta-o. Algumas palavras que vocaliza são ouvidas. "Nunca dizes 'este tipo branco'. Dizes 'este tipo'", atira e repete, cara a cara com o oficial, que lhe tenta responder mas a tentativa de resposta não é audível. "Ouve-me. Se quando falas de um tipo negro, então porque dizes 'este tipo negro'?", continua o jogador, até outrem intervir e os separar.
O que se viu, depois, foi muito mais conversas e diálogos a acontecerem no relvado até que os jogadores do PSG e do Basaksehir se recusarem a prosseguir com o jogo e recolherem aos balneários. Na sua conta oficial do Twiiter, o clube turco publicaria uma imagem da campanha "Não ao racismo" da UEFA. Pouco depois, o PSG partilhou-a.
A partida foi interrompida por volta das 20h23. Uma hora depois ainda estava suspensa, com vivalma no relvado do Parque dos Príncipes e a UEFA muda, tanto nas suas redes sociais como no relato ao minuto do jogo que mantém no seu site. "Jogo suspenso. Mais informações em breve", lê-se, na entrada mais recente.

Baptiste Fernandez/Getty
Mas, ao "The Athletic", a entidade respondeu com uma nota na qual explicou que "após consulta com as duas equipas, foi acordado que o jogo seria retomado com um quarto árbitro diferente". Às 21h40, contudo, a transmissão mostrava um responsável do PSG a recolher casacos e pedaços de equipamento deixados pelos jogadores suplentes na bancada, onde se tiveram de espalhar para cumprir o distanciamento protocolado para os encontros da Liga dos Campeões.
A UEFA escreveu, depois, que vai "investigar aprofundadamente o assunto" e comunicará mais informações "em devido tempo".
Em causa, no jogo, estava a passagem aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões, que nesta última jornada era discutida por três das quatro equipas do Grupo H - o Paris Saint-Germain, o RB Leipzig e o Manchester United. Essa discussão terminou antes sequer deste jogo poder vir a ser acabado, porque a equipa inglesa perdeu (3-2) na Alemanha e as contas do confronto direto com os franceses condenam-na a se contentar com a Liga Europa.
Já quase às 22h30, a Federação Romena de Futebol, na qual os quatro elementos da equipa de arbitragem estão inscritos, emitiu um comunicado, dando conta de que "está à espera do relatório" da UEFA, que "vai analisar o incidente". A federação explicou que agirá "em conformidade" e afirmou-se "firmemente delimitada de qualquer ação ou declaração racista ou xenófoba".
Minutos volvidos, a UEFA sacudiu-se do silêncio e reagiu através do Twitter: "A UEFA está ciente de um incidente [ocorrido] durante o jogo da Liga dos Campeões desta noite entre o Paris Saint-Germain e o Istambul Basaksehir e vai conduzir uma investigação aprofundada. Racismo e discriminação em qualquer formato não tem lugar no futebol".
A entidade confirmaria, também, que após "discussão com ambos os clubes" e com "base excecional", os minutos que restam jogar serão retomados esta quarta-feira, a partir das 17h55, com "uma nova equipa de arbitragem".
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