Benfica: vocês os três façam um resultado quadrado
Por fim com o desejado Lucas Veríssimo em campo, Jorge Jesus pôs o Benfica com três centrais para encarar prudentemente o Arsenal, a quem retirou espaço para que a explosão e a criatividade dos melhores jogadores não expusessem o momento frágil dos encarnados - e para depois procurar o golo em contra-ataque. Os lisboetas defenderam melhor na primeira-parte e atacaram melhor na segunda; o jogo acabou empatado (1-1) e é justo que assim tenha sido
18.02.2021 às 22h52

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Para início de conversa, digamos que o Arsenal é um clube peculiar. Durante épocas, com o impassível e cavalheiresco Arsène Wenger a treinar jogadores, decidir plantéis e a definir a cultura dos gunners, o Arsenal optou por um modelo de negócio racional, a longo prazo. O francês acreditava na justiça poética: um dia, quando a FIFA apertasse a malha, os oligarcas, os especuladores e os grandes gastadores seriam castigados, e o Arsenal sairia por cima, vingado por anos e anos de contratações paradoxalmente modestas face ao vasto orçamento à disposição.
Pois que quando esse momento de viragem chegou - quando o fair-play financeiro foi sistematizado - aqueles de quem Wenger desconfiava e a quem chamava irresponsáveis logo trataram de contornar as regras e da vidinha deles, e o status quo manteve-se. O plano saiu furado, Wenger também sairia, o Arsenal afundar-se-ia primeiro numa crise existencial e agora, parece, financeira também: o cúmulo foi a dispensa mui liberal da mascote do clube que tinha no banco de suplentes um dos atletas mais bem pagos do planeta, o alemão Mesut Özil, acabadinho de se transferir para a Turquia e portanto um dos nomes estelares que Jorge Jesus sabia há muito não correr o risco de enfrentar.
O treinador do Benfica defrontaria outros, como Aubameyang, Pépé, Lacazette, Xhaka, Willian ou o prodígio adiado Odegaard, que são futebolistas, vá, de estampa, embora longe daqueles que Wenger assumiu ter falhado contratar no tempo em que queria comprar jovens ao preço da chuva e sem entrar no jogo dos empresários. Messi. Piquè. Cristiano Ronaldo. Mbappé.
Pois: o Arsenal é justamente aquela pessoa para quem hoje nunca é um bom dia para sair de casa, pois tudo pode correr mal. E foi exatamente este Arsenal de duas caras que este inconsistente Benfica encontrou num embate em que se cruzou um par de histórias: uma primeira-parte aborrecida, com pouquíssimo bruaá a não ser um falhanço espectacular de Aubameyang na cara de Helton, ao minuto 19’, e um remate em queda de Darwin que é a metáfora perfeita para o momento de forma do uruguaio; e uma segunda-parte bastante mais animada, com mais ocasiões (que em tempo útil serão descritas) e dois golos para cada lado, um de Pizzi, de penálti aos 55’, e um de Saka, dois minutos depois do anterior.
Enfim, nós três
Armado num sistema de três centrais - com a novidade Lucas Veríssimo à direita de Otamendi e com Verthongen à esquerda do argentino, Diogo Gonçalves e Grimaldo nas alas, Weigl, Pizzi e Taarabt no meio campo e Waldschdmit ao lado de Darwin -, o Benfica quis sobretudo impedir o jogo de passes curtos e apoiado dos gunners, a versão pobre do tiki-taka de Arteta, protegido de Guardiola.
E a verdade é que os encarnados foram quase sempre bem sucedidos nessa estratégia prudente, permitindo pouca profundidade aos rapidíssimos avançados dos londrinos e tapando a influência de Dani Ceballos. Excetuando as falhas de posicionamento de Grimaldo na cobertura a Bellerín, o Benfica esteve OK, mas faltou obviamente o passo seguinte: tentar rematar à baliza, porque afinal de contas o Benfica jogava em casa, ainda que emprestada.
Na segunda-parte, as coisas - como já foi dito acima- alteraram-se e o Benfica até acabaria o encontro com quatro remates à baliza de Leno, mais dois do que os do Arsenal à de Helton.
O catalisador da mudança foi aquele jogador que joga duas mudanças acima dos restantes e que dá pelo nome de Rafa, o único e verdadeiro desequilibrador do plantel encarnado. O intrépido extremo/avançado encara sempre o adversário e a probabilidade de ultrapassar o primeiro que lhe aparece pela frente é tão grande quanto a de falhar um golo feito - o problema de Rafa está na definição, ainda que, para efeitos práticos deste Benfica - Arsenal, a sua velocidade tenha funcionado para despertar os lisboetas.
Por fim, Rafa
Rafa entrou então para o lugar de Waldschmidt depois do intervalo e o Benfica encontrou logo espaço na grande área encarnada após combinação de Diogo Gonçalves com Pizzi - o médio chutou para as mãos de Leno, mas mais tarde o primeiro enganaria o segundo com uma paradinha na grande penalidade convertida. Essa vantagem, porém, durou poucochinho, porque no lance seguinte à reposição de bola, Diogo Gonçalves perdeu Cédric de vista que cruzou para o empate do Arsenal: um encosto do rapidíssimo Saka, que abriu definitivamente o embate em Roma.
Do ponto de vista do espectador, foi o melhor que poderia ter acontecido: aos 62’, Rafa rematou de trivela para uma defesa de Leno; aos 63’, Aubameyang chutou pertíssimo ao poste; aos 73’, Everton, que entrara para o lugar de Pizzi, disparou em arco não muito longe da baliza; e aos 75’, Lucas Veríssimo justificou os elogios de Jesus à sua velocidade e correu atrás de Aubameyang para um desarme importante. Problema: o sprint do brasileiro resultou num desconforto muscular que o forçou a sair de campo mais tarde, obrigando Jesus a desfazer o tridente que tanto desejou.
Daí até final, os dois treinadores foram trocando de jogadores sem que nada de realmente extraordinário se passasse e o empate final não deixou ninguém profundamente chateado.
Foi justo, foi o que foi, não deu para mais, ajustam-se contas na Grécia, onde o Benfica terá de dar mais
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