Uma lição de (bom) futebol
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04.02.2019

A bola da Liga NOS foi bem tratada no dérbi de Alvalade
Gualter Fatia
"No princípio era a bola." Já depois de ter entrevistado Renato Paiva, em agosto do ano passado, para a Tribuna Expresso, fui a uma formação ministrada pelo então treinador dos juniores do Benfica em que conversa começou mais ou menos assim:
- Por que razão é que estamos, eu e vocês, aqui?
As respostas foram muitas e variadas: paixão, futebol, vontade de aprender, conhecimento, treino, trabalho, etc, etc, etc. Estranhamente, demorámos a chegar onde Renato Paiva nos quis levar: à bola (a este propósito, se quiser uma outra lição gratuita do treinador da equipa B do Benfica, aqui fica o link).
Mais ou menos colorida, mais ou menos rota, mais ou menos dura, todos tivemos uma e foi com ela que tudo começou. É impossível o adepto adulto não ter sido uma criança que brincava com a bola, independentemente de jogar melhor ou pior, porque, com pouca noção e uma bola nos pés, todos nos imaginamos tão bons como um outro alguém - hoje, nos recreios de Portugal, é provável que já todos saibam o nome de um rapaz franzino que ainda usa aparelho mas tem a maturidade dos grandes do futebol.
É na bola que tudo começa e é a partir dali que tudo se desenrola, ainda que, ao longo dos anos, nos vamos esquecendo progressivamente disto. Não só porque já não frequentamos recreios, mas porque os nossos sentidos vão sendo continuamente invadidos por outras coisas, como polémicas sobre arbitragens e programas sobre o diz que disse.
A bola, onde tudo começou, vai ficando para trás, até porque, em campo, hoje em dia, há quem prefira nem tê-la. Ou, melhor dizendo: há os que querem a bola, para mandar no jogo e (tentar) fazer o que treinam e há os que tentam evitar que os outros façam qualquer coisa com a bola. Alguém se lembra do Benfica-Sporting da 1ª volta?
Podendo parecer uma aceção excessivamente simplista, é a génese do que difere entre Bruno Lage e Rui Vitória, por exemplo. Ao contrário do que chegou a dizer Luís Filipe Vieira, dificilmente algum benfiquista sentirá saudades da sombra que era a equipa do Benfica com Vitória. Agora, o Benfica tem comportamentos coletivos evidentes de equipa grande, que misturam modelo (mais predominante) e estratégia (menos predominante), e, com mais ou menos feeling, é isto que dá ideias claras aos jogadores sobre como atuar em campo, em todos os momentos do jogo.
O que nos leva, então, ao Sporting de Marcel Keizer. Citando a minha colega Lídia Paralta Gomes: quando o holandês chegou a Alvalade, houve um processo de keizerização do futebol cinzento da equipa dos tempos de José Peseiro, passando a haver um certo amor pela posse da bola. O problema é que isto de fazer rabias é giro e dá uma boa relação com bola, mas, depois, falta passar para o entendimento coletivo do amor pela bola, porque, para mantê-la, é preciso que a equipa crie as condições necessárias para tal (e que os adeptos também o entendam - é triste quando, logo no início do jogo, Nani, com a inteligência habitual, pausava o jogo para percebê-lo melhor e ouvia... um coro de assobios. Só não os ouviu quando fez aquele passe para Bruno Fernandes...). E, algures numa noite fria em Tondela (como diriam os ingleses: but can you do it on a cold rainy night in Stoke?), a keizerização perdeu-se entre os pingos da chuva, passando a dar menos importância ao objeto mais importante do futebol.
E, ainda que a diferença na qualidade individual dos protagonistas com bola possa ser diferente, há comportamentos que nunca se perdem independentemente da qualidade em mãos - ou melhor, em pés. Podemos estar a jogar com os jogadores mais toscos do recreio e, ainda assim, ter comportamentos coletivos bem definidos, por exemplo, para a nossa 1ª fase de construção - caso sejam treinados repetidamente, claro. Porque, se queremos sair a jogar, então, temos de criar soluções para tal. Quando os centrais do Sporting têm a bola, pressionados por dois avançados adversários, quem os ajuda? É o guarda-redes a criar superioridade numérica a partir de trás? É o 6 a colocar-se entre os dois avançados e a receber enquadrado? São os médios a baixar em apoio e a tocar de frente no 6 ou no lateral? É o chuto para a frente? É o quê? Ninguém parece saber muito bem. Ao contrário do que acontece agora no Benfica, em que todos parecem pensar o mesmo.
No princípio era a bola. E, no fim, também.
O que se passou
Além do dérbi, houve outro clássico da bola: a Super Bowl, com os Patriots de Tom Brady a vencerem o troféu e a darem problemas à Netflix. Ronaldo marcou dois, mas a Juventus deixou-se empatar. Um corpo foi encontrado entre os destroços do avião de Sala. Nélson Oliveira ficou com a cara destroçada depois de ser pisado por um adversário. Frederico Morais está pronto para regressar ao circuito principal de surf.
Doutor Lage, Senhor Keizer e um dérbi de solilóquios hamletianos e pratas da casa (por Bruno Vieira Amaral)
O Lageboratório, o body shaming, o Keizépeseiro e a proverbial escorregadela (por Insónias em Carvão)
Última hora: a Proteção Civil registou 37 ocorrências na associação recreativa de Alvalade (o furacão Félix, por Um Azar do Kralj)
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Zona mista
"Foi um jogo muito mau".
- Marcel Keizer, treinador do Sporting, a admitir o óbvio, após o dérbi
O que aí vem
Segunda, 4
O ainda líder da Premier League, o Liverpool, defronta o West Ham (20h, SportTV2), já depois de saber que tem o City a dois pontos, já que a equipa de Pep Guardiola venceu o Arsenal, por 3-1, na 25ª jornada. Esta noite também há Liga espanhola na Eleven Sports - Rayo Vallecano-Leganés (20h) - e Liga portuguesa na SportTV - Belenenses SAD-Moreirense (20h15). Já na madrugada de terça, há Suns-Rockets e Kings-Spurs, às 2h e às 3h, na NBA.
Terça-feira, 5
É dia de Taças, na Alemanha e em França: o Borussia Dortmund recebe o Werder Bremen (19h45, SportTV2) e o Nante recebe o Toulouse (17h30, SportTV3). Há também 2ª Liga portuguesa: Famalicão-Paços de Ferreira (20h15, SportTV1). Na NBA, à meia-noite, há Pacers-Lakers e Hornets-Clippers.
Quarta-feira, 6
É outra vez dia de dérbi, desta vez para a Taça de Portugal: Benfica-Sporting, 1ª mão das meias-finais (20h45, RTP1). Antes, há outras Taças: às 17h30 (SportTV3), Villefranche-PSG, para a Taça francesa; e às 19h45 (SportTV4), Hertha-Bayern Munique, para a Taça alemã. Em Inglaterra, há Premier League: o Everton de Marco Silva recebe o Manchester City, às 19h45 (SportTV2). Em andebol, há FC Porto-Fafe (20h30, Porto Canal).
Quinta-feira, 7
Na Serie A, há Lazio-Empoli (19h30, SPortTV3), e na Taça francesa há Guingamp-Lyon (20h, SportTV2). Na Liga dos campeões de andebol, há Nantes-Paris SG (19h45, SportTV4).
Sexta-feira, 8
Começa a 21ª jornada da Liga portuguesa, com o Moreirense-FC Porto (20h30, SportTV1). Na Liga espanhola, há Valladolid-Villarreal (20h, Eleven Sports).
Sábado, 9
Para os mais madrugadores, há Liga australiana, às 8h50: Melbourne City-Adelaide United (SportTV3). Às 11h, há 2ª Liga portuguesa: Académico Viseu-FC Porto B. O Celta de Miguel Cardoso vai a Getafe (12h, Eleven Sports) e há dérbi madrileno às 15h15 (Eleven Sports): Atlético-Real. Na Liga inglesa, Fulham-Manchester United (12h30, SportTV2) e Liverpool-Bournemouth (15h, SportTV2). Na Liga NOS, o dia começa com um Marítimo-Aves (15h30, SportTV1), continua com um Portimonense-Rio Ave (18h, SportTV1) e termina com um Tondela-Vitória de Guimarães (20h30, SportTV1). Na 2ª Liga, há Benfica B-Académica (17h, BTV). Na Taça EHF de andebol, há FC Porto-Ciudad Encantada (18h, Porto Canal).
Domingo, 10
Prepara-se porque este vai ser um domingo recheado de muita bola: há Leganés-Bétis (11h, Eleven Sports) e Estoril Praia-Cova da Piedade (11h15, SportTV1). Às 13h30, há Tottenham-Leicester; às 15h Braga-Chaves e Boavista-Santa Clara (SportTV1 e 4); às 16h, Manchester City-Chelsea; às 17h, Sassuolo-Juventus; às 17h30, Benfica-Nacional (BTV); às 19h45, Athletic-Barcelona (Eleven Sports); e, às 20h, Feirense-Sporting.
Hoje deu-nos para isto

Cristiano Ronaldo a assistir ao dérbi entre Sporting e Benfica
SOPA Images
Cristiano Ronaldo estava em Alvalade, domingo à noite, a assistir ao Sporting-Benfica, com a sua mais que tudo, mas o verdadeiro protagonista dos camarotes foi outro - ou melhor, outra: dona Dolores, pois claro. A mãe de Ronaldo foi saudada pelos adeptos benfiquistas no local com um cântico, no mínimo, original. "E a Dolores é do Benfica", repetiam os adeptos, enquanto a progenitora de CR7 ia tentando dizer que não, entre gargalhadas. Um momento de desportivismo num dérbi, como deveria acontecer sempre, entre todos os clubes. E uma boa altura para recordar um anúncio televisivo impecável, sobre as bananas da Madeira, protagonizado por Dolores Aveiro, pois claro.