Fernando Mendes: “Vi adeptos do Benfica a queimarem bandeiras e cartões de sócio”
Em semana de Sporting-Benfica, a Tribuna Expresso tem uma história por dia sobre o dérbi, contada por quem a viveu, na primeira pessoa. Esta é a de Fernando Mendes, lateral que passou pelos três grandes e que com pouco mais de 20 anos foi titular pelos leões na vitória por 7-1 do Sporting, na época 1986/87
17.04.2017 às 17h55

Arquivo A Capital
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Há um dérbi que vai ficar para sempre marcado na história: os 7-1. Eu tive a felicidade de fazer parte desse jogo e por isso ficar na história dos dérbis. Dos dérbis e do futebol português, que isto não é um resultado que aconteça assim todos os anos!
Era o dérbi dos dérbis e lembro-me de sentir uma grande alegria e felicidade por ver o meu grande capitão, Manuel Fernandes, fazer golos atrás de golos: acabou com quatro nesse jogo. Vencer o Benfica é sempre uma alegria mas com esta margem e sabendo nós que é um resultado que dificilmente se vai repetir… Acima de tudo queríamos ganhar o jogo, mas o resultado foi completamente invulgar. Foi uma grande exibição do Sporting!
O ambiente em Alvalade era sempre fantástico e ainda hoje é. Mas recordo-me de ver adeptos do Benfica a queimar bandeiras e cartões de sócio com toda a desilusão. Para eles foi tremendo, tal como seria para os adeptos do Sporting se o resultado fosse ao contrário.
Tinha amigos no Benfica, com quem acabei mais tarde por jogar: o Diamantino, o Silvino, o Veloso. A desilusão deles era tremenda. Porque tenho muitas dúvidas se algum dos jogadores que tenha estado daquele encontro, quer do Benfica, quer do Sporting, tenha alguma vez sofrido sete golos nos clubes por onde passaram. É um caso raro. A desilusão na cara deles notava-se, claramente, porque não é um resultado fácil de digerir, mas todos eles são grandes campeões: independentemente do que aconteceu, são grandes jogadores e conseguiram recuperar. Aliás, foram campeões nesse ano.
Festejámos normalmente tendo em conta a vitória que foi, mas mais com o Manel claro. Salvo erro, só tinha havido um jogador a marcar quatro golos num jogo contra o Benfica, o Lourenço, há uns cinquenta anos. Foi uma satisfação imensa e demos os parabéns a um jogador que naquele dia ficava para a história do futebol português com aqueles quatro golos.

Arquivo A Capital
Os dias que se seguiram ao jogo foram excelentes, pela alegria das pessoas, mas depois caímos na realidade [risos]! Começámos a perder jogos e não conseguimos ser campeões. Portanto, valeu pelo resultado histórico, não valeu pela continuidade, porque aquele resultado podia ter-nos catapultado para outros objetivos, mas não conseguimos isso.
Sinceramente, se calhar para a grande maioria das pessoas vale mais aquele 7-1 do que um campeonato. Um campeonato passa, isto não, não passa, nunca mais vai passar. Campeonato é mais um, 7-1 é uma vez na vida.
Tenho boas recordações dos dérbis contra o Benfica. No caso do 7-1, mas também da Supertaça de 87, que ganhámos. Mas também levei 5-0, para a Taça, salvo erro [em 1985/86]! Acontece, de vez em quando, estes resultados que não são muito normais. Também o Benfica já venceu em Alvalade por 6-3, numa altura em que já não estava lá.
Quando estava no Benfica só fiz um dérbi. Logo no início, na Taça de Honra, salvo erro. Estava no Benfica há pouco tempo e fui defrontar um clube onde cheguei com 10 anos de idade. É muito tempo. Custou-me mas, acima de tudo, profissionalismo.
Ah, mas quando estava no FC Porto acho que só perdi um jogo contra o Benfica. Nos quatro anos que lá estive ganhei os clássicos quase todos!
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