Sporting 7-1 Campomaiorense. O primeiro jogo de Diogo Faro acabou assim. Voltaria a ver outro, mas ao contrário e em Munique
Diogo Faro escreve sobre a primeira vez que foi à bola. Aconteceu em Alvalade, no velhinho Alvalade, em 1995. O seu Sporting bateu o Campomaiorense e foi a oportunidade de ver ao vivo Amunike, um dos seus jogadores preferidos. A rubrica "O Meu Jogo" convida o cronista, jornalista, ex-jogador, seja o que for, a relembrar-se dos eventos desportivos que mais o marcaram, como adepto ou interveniente
03.04.2020 às 8h18

Tony Marshall - EMPICS
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A primeira vez nunca se esquece, dizem os mais expeditos. Isto aplica-se à primeira vez que se tem sexo (podia falar-vos da parvoíce que é o obsoleto conceito de virgindade, mas vou deixar para outros papiros que este é sobre futebol), a primeira grande bezana (aquela soberba bebedeira que nos faz vomitar a adolescência, entre restos de sangria e embaraço) e, no caso, a primeira vez que se vai à bola. Também podia enumerar aqui quando se acaba o curso ou quando se casa pela primeira vez, mas parecem-me eventos de vida de somenos quando com os outros comparados.
Sporting contra Campomaiorense, 95/96, no antigo estádio José Alvalade, levou-me o meu tio Pedro. Tinha eu 9 anos mal feitos, ainda não beijava na boca, não bebia cerveja e, como facilmente se constata, nunca tinha visto o Sporting campeão. Mas foi por esta altura, talvez um ou dois anos antes, que comecei a adorar futebol, mais ainda do que adorava Constança, que era a miúda mais bonita da minha turma mas que eu olimpicamente ignorava em todos os intervalos, porque acertar com a bola (normalmente de papel e fita-cola) entre duas mochilas era o sentimento mais bonito que podia encher o meu imberbe coração.
Até era rapaz com boas notas, mas o Estudo do Meio que realmente me importava era o estudo do meio campo do pátio da escola, assim como a melhor forma de Expressão Plástica era a colagem dos cromos da Panini na caderneta. E tudo isto, para dizer com estava precisamente na altura certa para finalmente ir ver o Sporting jogar ao vivo.
Sabia a equipa de cor. Tenho ideia de que os meus preferidos na altura eram o Amuneke e o Dominguez (também podíamos discorrer um pouco sobre aquele cabelo que era a versão estilizada do cabelo à tigela, mas vamos poupá-lo), o Sá Pinto (na altura pré-soco no Artur Jorge), e claro, o enorme capitão Oceano.
Agora podia descrever os golos como se realmente me lembrasse deles (ou ir ao YouTube fazer batota), mas não me lembro. Mas lembro-me bem da alegria que era pular da cadeira aos berros, a cada golo.
Ver o teu clube espetar 7-1 na primeira vez que o vais ver ao vivo é um privilégio. Só voltei a ver esse resultado muitos anos mais tarde, mas foi ao contrário e foi em Munique. Pena. Outra coisa de que me lembro bem no jogo é dos meus próprios cânticos. Completamente imbuído no espírito festivo de tanto golo, a páginas tantas resolvi cantar – sozinho, porque estranhamente a Juve Leo não me acompanhou – uma canção cuja minha parte preferida era o insulto ao adversário: caca de barata.
Pensava eu: “que jogador adversário é que não ficaria completamente desnorteado ao ouvir que era caca de barata?”. Perguntei ao meu tio se me tinha ouvido cantar (a Juve Leo estava a cantar coisas com muito menos graça, só que mais alto, e ele podia não ter ouvido).
“Sim, sim”, muito simpático, mas vi pela cara transparente dele, que não tinha achado graça. Não era por mal, era só porque era adulto e os adultos não cantam aquela canção. E aí pensei que ela música era mesmo infantil e nunca mais a cantei.
Cresci naquele dia, a ver o Sporting ganhar 7-1. À falta de campeonatos, há sempre outras pequenas vitórias que o Sporting me tem dado, como precisamente esta de ver o lado bom das coisas (quando dá, vá, que isto também não é tudo uma alegria).
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