Sporting. Assim não vamos lá. Esqueçam, vamos ter mais um ano perdido
Nicolau Santos, diretor-adjunto do jornal Expresso, escreve sobre o que viu ontem e o que antevê para os próximos tempos em Alvalade
27.07.2017 às 12h06
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O Sporting perdeu ontem com o Vitória de Guimarães por 3-0 num jogo de preparação para a nova época que, para os leões, arranca no dia 6 de agosto, na Vila de Aves, o jogo que abre a Liga 2017/18. E o mínimo que se pode dizer é que os sinais foram preocupantes, não pelas experiências que Jorge Jesus fez ou pelas adaptações que foi obrigado a fazer, mas pelas manifestas fragilidades que se estão a tornar evidentes como resultado de uma má política de dispensas e de um sistema táctico que agrava essas fragilidades.
Guarda-redes: o Sporting não pode vender Beto e vender também Rui Patrício. Patrício é o melhor guarda-redes português, um dos melhores a nível mundial e garante vários pontos por época, além de dar uma enorme tranquilidade a quem está à sua frente. Beto colmata bem os jogos em que ele não puder estar presente. Vender os dois será uma desgraça, a não ser que se consiga uma alternativa magnífica.
Defesa: como é possível o Sporting iniciar um jogo com Bruno César a defesa-direito? É possível porque Schelotto foi dispensado, João Pereira foi vendido a meio da época passada e só há um tal Piccini, que já esta lesionado – e que, quando não estiver, não terá concorrência para o lugar. Erro crasso na política de dispensas e contratações. E o responsável chama-se Jorge Jesus. Coates não parece, para já, o jogador da época passada. O erro que ontem cometeu e que lhe valeu a expulsão aos 20 minutos de jogo é inadmissível no jogador de uma equipa que tem pretensões a ganhar títulos. Mas a intranquilidade de Coates resulta também da venda de Ruben Semedo, que colmatava em rapidez o que lhe faltava em serenidade e experiência, bem como a venda de Paulo Oliveira, com quem Jesus nunca foi à bola, mas que era de longe o mais rápido dos defesas sportinguistas e um jogador de grande entrega e muita qualidade. Em contrapartida, veio Mathieu que é pesadão, lento, com rins duros e que, a cereja em cima do bolo, já está lesionado. Se sofremos muitos golos o ano passado, cheira-me que este ano vamos sofrer muitos mais. Basta ver o que tem acontecido na pré-época.
Para a esquerda temos um jogador com problemas emocionais e que estava quase arrumado (Coentrão) e um jovem que precisa de jogar para ganhar confiança, mas que está longe de ser melhor que Jefferson (outro com quem Jesus nunca foi à bola e que, enquanto não despachou, não descansou). Conclusão: temos um enorme problema na defesa por culpa exclusiva de Jesus e das más opções que tem tomado, quer ao nível das dispensas, quer no plano das contratações. Esperemos que André Pinto recupere da lesão para sentar Mathieu.

Jorge Jesus cumpre a terceira época como treinador do Sporting
Carlos Rodrigues/Getty
No meio-campo, temos duas incógnitas fundamentais: Adrien e William Carvalho ficam ou vão? Ficam os dois ou só um? Não fica nenhum? E se ficar um, qual será? Dos contratados, Matheus Oliveira pode ser filho de Bebeto, mas não é jogador para uma equipa que luta pelo título. Vai ser despachado rapidamente ou jogará muito pouco. Palhinha está uns furos acima dele – e é da casa. Petrovic e Battaglia também são melhores e dão mais garantias. Acima da média, contudo, só mesmo Bruno Fernandes, que tem excelentes pés e magnífica capacidade de passe. Mas lá está: sem Adrien e William, este meio-campo é pior do que o que existia com eles.
Finalmente, no ataque, Podence devia ter lugar obrigatório, assim como Bas Dost. Mas o que fazer com Doumbia, que é um avançado possante que pode ser muito importante contra equipas fortes? Iuri Medeiros também merece jogar. Mas o lado direito, onde ontem jogou, não é o seu terreno natural. Acuña voltou a mostrar empenho e combatividade e Gelson Dala tem a alegria dos miúdos que jogam à bola na rua. Devia ser emprestado para rodar e marcar.
Conclusão: o nosso calcanhar de Aquiles está, para já, na defesa – e, já agora, no sistema táctico que, pelos vistos, Jesus, quer implementar, um 3-4-3 que pode ser útil para jogos com equipas fraquinhas, mas que é um perigo contra equipas boas ou excelentes – como se viu ontem, em que a defesa foi manteiga a ser cortada por faca aquecida.
Com quem está neste momento no plantel, o melhor seria mesmo voltar ao 4-3-3, assim escalonado: Patrício; Piccini (que remédio), Coates, Mathieu (ai, ai… - mete o André Pinto, Jesus!) e Coentrão (ai, ai, ai!); William, Adrien e Bruno Fernandes; Podence (Iuri Medeiros), Doumbia (Acunã) e Bas Dost. E precisamos de ir rapidamente ao mercado comprar um defesa direito.
Mas, de qualquer modo, deixem-me ser tremendista: com estes desequilíbrios na equipa, como resultado de más opções nas compras e vendas, sobretudo para a defesa (Jesus tem um problema com os defesas esquerdos desde o tempo em que esteve no Benfica…), vamos ter mais um ano perdido. É melhor Bruno Carvalho e Jorge Jesus começarem a preparar desde já os discursos que vão fazer aos sócios no final da época.
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