#FCPorto29. E o Porto é Conceição (e só é diseur quem pode)
Sérgio Conceição recuperou o tribalismo que fez do FC Porto uma máquina emocional, agressiva e perigosa, e acima de tudo ganhadora no passado. Podem discutir-se os méritos e os deméritos - e é evidente que o Benfica falhou espetacularmente esta época -, mas não reconhecer a importância do treinador quando se ganha um troféu é desonesto em quaisquer circunstâncias
15.07.2020 às 23h22

MIGUEL RIOPA
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Cada palavra tem um peso e um significado específicos, isto quer dizer isto e não outra coisa qualquer, pelo que escolher o termo exato no momento certo é um exercício de considerável dificuldade. Fazê-lo bem é boa oratória, a boa oratória convence e essa é uma arte que o diseur Jorge Nuno Pinto da Costa domina como ninguém - pelo menos, bastante melhor do que com quem partilha o palco, ainda que os termos de comparação sejam frágeis.
Vamos lá então ao que ele disse: “Sérgio Conceição incorpora totalmente os valores que Pedroto incutiu. Nunca tivemos um treinador, e eu convivo quase diariamente com eles, com espírito mais parecido ao do Pedroto”. A 7 de janeiro, dia em que se assinalavam os 35 anos da morte do treinador José Maria Pedroto, Pinto da Costa emparelhou Sérgio Conceição com um dos maiores mitos do FC Porto, talvez o maior a seguir ao presidente do clube; se Eusébio fosse do FCP, seria duas pessoas: Pinto da Costa e “o Pedroto”.
O presidente nunca pôs outro técnico a este nível: nem Artur Jorge, que conquistou a primeira Taça dos Campeões Europeus, nem José Mourinho, que ganhou a Taça UEFA e depois a Liga dos Campeões, nem André Villas-Boas, de quem realmente gostava e que venceu uma Liga Europa. Os três somaram títulos que Conceição não tem, mas para Pinto da Costa só este tem o “espírito” no sangue, expressão que futebolisticamente traduzimos por mística.
Ao nivelá-lo por cima, Pinto da Costa pô-lo no mínimo a seu lado e no limite acima dele. E pois foi aí que pareceu estar durante parte da temporada, desde logo no início. Exigiu um investimento impensável num clube tecnicamente falido e teve-o. Castigou os jogadores apanhados num after hours, afirmou estar a “cagar-se” para as críticas nas redes sociais que pediam a titularidade dos putos, mudou o departamento de comunicação a seu gosto, disparou contra a falta de união no clube após a Taça da Liga, pressionou os jogadores e as famílias dos jogadores como se fazia antigamente, em suma, controlou o produto do início até ao fim, verticalmente, sem rodeios, com muitos choques.
E quando nada o fazia prever - porque o Benfica tinha melhor plantel e esteve sete pontos à frente - o FC Porto sagrou-se campeão nacional, o segundo título nos três anos em que se encontrou subjugado pelo Fair Play Financeiro e ameaçado por um rival em (alegado) desafogo financeiro e que se alavanca no conceito da (também alegada) hegemonia para se dizer a maior potência futebolística em Portugal.
Contra o politicamente correto, Sérgio Conceição recuperou o tribalismo que fez do FC Porto uma máquina emocional, agressiva e perigosa, e acima de tudo ganhadora no passado. Podem discutir-se os méritos e os deméritos - e é evidente que o Benfica falhou espetacularmente esta época -, mas não reconhecer a importância do treinador quando se ganha um troféu é desonesto em quaisquer circunstâncias. Para finalizar a conversa: Conceição ganhou todos os jogos contra os grandes esta época.
Assim sendo, o Porto é Conceição. E só é diseur quem pode.
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