“Quando estava no Sporting e defrontei o Benfica, foi Jesus contra Jesus. Tinha criado um monstro, tinha de o derrubar”
Depois de lavar os cestos do campeonato e da Libertadores, Jesus prepara a vindima do Mundial de Clubes com os olhos postos em futuras colheitas
29.11.2019 às 9h32

Henry Romero
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O treinador português mais famoso do Brasil por estes dias deu uma entrevista ao jornal “Record”, em que reiterou a ambição que já lhe era reconhecida e falou sobre o que aí vem. Ficam os destaques.
As portas que o Flamengo abriu
“Eu sempre soube que tinha essa capacidade, mas era preciso justificar isso com títulos. E o Flamengo abriu-me as portas de um grande europeu, e se eu tivesse continuado na Arábia Saudita ou no Sporting, não teria isso.”
A ida para o Brasil
“Aquilo que me deixa orgulhoso é que, quando tomei esta opção, fui contra tudo e contra todos. Os meus amigos e o agente diziam que estava louco em ir para o Brasil e que ao fim de uma semana ia ser corrido como todos os treinadores brasileiros. Diziam ‘tens possibilidade de ir para Inglaterra’ – pois tinha essa hipótese – ‘como é que pões de parte um campeonato em que toda a gente quer entrar’ e hoje tenho a certeza de que o meu coração e a minha intuição escolheram o caminho certo.”
“Vim para o Brasil com um objetivo que passava por vencer a Libertadores, sabendo que se conseguisse vencer estaria no Mundial de Clubes. E também o campeonato brasileiro. Quando cheguei, tínhamos oito pontos de atraso, mas não se pode comparar com Portugal, porque o Brasileirão é muito competitivo e perdem-se pontos com facilidade, porque é um campeonato muito forte, dos mais equilibrados do mundo.”
As principais dificuldades
“Provar, entre aspas, aos adeptos do Flamengo, que como é natural não me conheciam, mas também a quem divulgava a minha imagem, neste caso à comunicação social do Brasil, porque colocaram muitas reticências à minha capacidade, porque não me conheciam e eu sabia que só podia responder com trabalho. A pouco e pouco fomos mostrando como olhávamos para os jogos e para os resultados de forma diferente. Também com o tempo, todos foram dando alguma força e passaram a acreditar naquilo que fazíamos. Tudo se tornou mais fácil e conseguimos conquistar os objetivos.”
O Flamengo é único
“O Flamengo é único! Podemos correr qualquer clube do Mundo, mas isto é uma paixão e um amor incrível. São muitos adeptos, cerca de 45 milhões, e tudo isso também me apaixonou e foi-me dando força para chegarmos a este momento.”
Ganhar o Mundial de Clubes
Em termos de objetivo, é o mais difícil de alcançar. Porque vamos apanhar o Al Hilal ou o Espérance de Tunis, mas para mim os grandes favoritos são o Liverpool e depois é o Al Hilal e o Flamengo. Os ingleses um pouco à parte, porque devem chegar à final e depois vão disputá-la connosco ou com o Al Hilal, disso não tenho dúvida nenhuma.
Jesus contra Jesus
“Tenho mais dificuldade em perceber o que pode acontecer com o Al Hilal do que com o Liverpool. Tem um treinador que também tem muito mérito pelo que está a fazer, mas aquela equipa foi feita toda por mim, tirando um central.”
“É um pouco Jesus contra Jesus. Até porque senti isso um pouco quando estava no Sporting frente ao Benfica. Tinha construído um mostro, em termos de qualidade, e estava a tentar derrubá-lo, mas isso não foi fácil. Em relação ao Al Hilal, é um pouco assim. Porque o Al Hilal foi uma equipa que eu montei, é um trabalho meu. Portanto, vamos ver como vai ser a meia-final. Claro que o Al Hilal ainda tem de garantir a passagem às meias-finais, mas acredito que isso vai acontecer. Vai ser um desafio difícil.”
Os jogadores que Jesus levaria consigo
“Esta equipa do Flamengo faz-me lembrar a equipa que tive no primeiro ano no Benfica. Uma equipa muito criativa e com muito talento. Eu tenho dois ou três jogadores que se calhar teria de levar… (…) Teria de ser o Gabigol e o Bruno Henrique, como é óbvio. E depois tenho um jogador que pensa muito à frente dos outros e que me faz lembrar o Nico Gaitán, que é o Arrascaeta. Portanto, o Flamengo tem jogadores com uma dimensão acima do que é normal.”
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