Varandas: “Vou abandonar este patético mundo de covid, porque vou entrar num banco de 24h para tratar de doentes covid reais”
O presidente do Sporting vai fazer queixa à Ordem dos Médicos do diretor clínico do laboratório Unilabs. Em causa, os falsos positivos a Nuno Mendes e Sporar que retiraram os futebolistas dos jogos com o Rio Ave e com o FC Porto. Frederico Varandas fala em "azares estatísticos" que prejudicam o clube de Alvalade e denuncia hesitações "inesperadas" da DGS
19.01.2021 às 22h57

Frederico Varandas é presidente do Sporting desde setembro de 2018
TIAGO MIRANDA
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Sem nada que o fizesse prever, Frederico Varandas foi à sala de conferências do estádio de Leiria, onde se disputa a final four da Taça da Liga, e disparou sobre a Unilabs e a Direção-Geral de Saúde. Em causa, o caso dos falsos positivos a Nuno Mendes e Sporar, que ficaram fora das escolhas de Rúben Amorim para a meia-final desta competição que os de Alvalade ganharam (2-1) ao FC Porto.
O presidente do Sporting começou por afirmar que o clube "segue escrupulosamente o protocolo da Liga" para, em seguida, descrever cronologicamente os acontecimentos.
Então, Sporar e Nuno Mendes falharam o encontro com o Rio Ave, no dia 15, pois testaram positivo nos PCR protocolares da Liga na quarta-feira, dia 13. Mas como esses resultados "não bateram certo" com os testes internos de Alvalade, os futebolistas submeteram-se a dois testes PCR "em laboratórios diferentes e mais dois testes antigénio", que deram "sempre negativos".
Perante este cenário, o Sporting entrou em contacto com o laboratório Unilabs, que tem o acordo com a Liga, e foi enviada toda a documentação relativa aos testes internos efectuados que, no entender de Varandas, certificavam o estado clínico dos jogadores. Ironicamente, Varandas disse que "os falsos positivos acontecem apenas uma vez em 100 testes", portanto, "um por cento", e o Sporting "teve dois". "Não tivemos azar, tivemos muito azar", mas o clube aceitou a decisão e os dois futebolistas "fundamentais" não jogaram contra o Rio Ave.
Mas a história continua.
Na segunda-feira - esta segunda-feira - o Sporting recebeu a informação da Autoridade Regional de Saúde que os nomes de Nuno Mendes e de Sporar já não constavam no SINAVE - e que Nuno Mendes nunca fora na realidade registado no sistema de vigilância. "Tudo muito estranho, mas pronto: tivemos a indicação de que ambos poderiam jogar na Taça da Liga. Sou médico e afirmo inequivocamente que os jogadores não têm covid."
Só que não, argumentou Varandas. "Acontece que, não sei porquê, afinal o documento da ARS já não chegava para a Direção Geral de Saúde; a DGS queria que, em vez de falsos positivos, estivesse escrito que era um erro. Então, a ARS enviou um email, às 13h30 de hoje, para o laboratório Unilabs a pedir para que este mudasse o conteúdo falso positivo para erro laboratorial. Ainda não houve resposta do laboratório e o jogo já aconteceu."
Portanto, porque entre "este jogo de palavras", o Sporting foi a jogo sem estes dois futebolistas que, no seu entender, "não têm covid", e portanto o corpo clínico de Alvalade decidiu apresentar uma queixa contra o diretor clínico da Unilabs, que "disse não saber o se passava e que nem sequer tinha sido contactado. Pena: temos um e-mail desse mesmo senhor".
A seguir, Varandas despediu-se da conferência de imprensa improvisada da seguinte forma: "Eu não negoceio valores com presidentes ou colegas. Por fim, que já é tarde, vou abandonar este patético mundo de covid, porque dentro de momentos vou entrar num banco de 24 para tratar de doentes covid reais”.
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