Osaka, o ténis feminino pode ser teu
A japonesa conquistou, este sábado, o Open da Austrália, derrotando a americana Jennifer Brady, em dois sets (6-4, 6-3) para ser apenas a terceira pessoa na história a ganhar as suas quatro primeiras finais de um Grand Slam
20.02.2021 às 11h46

Quinn Rooney/Getty
Partilhar
Vejamo-la e ouçamo-la no court, mas sem raquete na mão, é um poço sem fundo de timidez e contrição. Cada palavra que lhe sai parece vir embrulhada em nicos de vergonha, a própria voz é mansa, como que a temer estar a dizer algo pelo qual será castigada em breve. É feitio, nunca seria defeito.
Mas deixem-na existir com a raquete agarrada na mão direita e a mutação é feita de imediato, Naomi Osaka vira um portento do ténis - dispara serviços potentes, arrasa com direitas estrondosas do fundo do campo que variam ângulos sem perderem força e cobre todo o piso jogável com um físico que parece não saber o que é cansaço.
Sem ter que falar, não tenho que responder a perguntas, a japonesa com morada nos EUA desde criança revela a sua personalidade tenística arrebatadora. Mostrou-a, de novo, este sábado, ao vencer a americana Jennifer Brady por 6-4 e 6-3, repetindo o triunfo no Open da Austrália que já tivera em 2019.
É o quarto torneio do Grand Slam para o olhar meigo e o jogo portentoso de Osaka, que assim ganhou as primeiras quatro finais de majors da carreira, um feito que a engrandece ainda mais. Antes, só o suíço Roger Federer e a sérvia naturalizada americana, Monica Seles, o tinham feito.
Osaka repete, também, uma proeza na virada de ano, pois voltou a vencer a prova em Melbourne logo após conquistar o US Open - conseguira-o entre 2018 e 2019 -, voltando portanto a atestar a sua prosperidade em pisos rápidos. Todos os sinais apontam para que não se fique por aí.
A japonesa não tem a vasta coleção de 24 Grand Slams de Margaret Court ou os 23 de Serena Williams, a quase quarentona lenda do ténis a quem ganhou na primeira final, há três anos, mas, no período que passou desde esse triunfo, Osaka tem evoluído e cimentado o seu jogo para níveis que não parecem ter competição.
Aos 23 anos, a pouca expansão de Naomi Osaka depois de cada vitória (ainda assim, muito tem evoluído) contraste com a capacidade que ostenta para se superiorizar às adversárias que tenha. "Espero que as jovens em casa estejam a vê-la e a ser inspiradas por o que está a fazer", disse a mais recente, Jennifer Brady, derrotada nesta final.
Por mais tímida, envergonhada e pouco hábil a lidar com a oratória que seja, Naomi Osaka é a campeã que está a assentar arraiais no ténis feminino, especialmente quando as únicas outras três mulheres com quatro ou mais Grand Slams (as manas Williams e Kim Clijsters) estão no pôr-do-sol das carreiras.
Relacionados
- Ténis
Naomi Osaka e Jennifer Brady, uma final entre duas atletas em perfeito controlo de si próprias
Para a norte-americana Brady, é uma estreia em finais de torneios do Grand Slam. Para a japonesa Osaka, pode ser a quarta vitória em tantas outras finais de majors. Entre as duas, pontos em comum: ambas têm grandes direitas e grandes serviços. E ambas estão numa espécie de nirvana competitivo que fará da final feminina do Open da Austrália (sábado, às 8h30, Eurosport1) um duro duelo